Page 75 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Formosa ilha, a Ilha dos Amores, que os navegantes viram um dia
desabrochar, fresca e florida, do meio das ondas.
Numa curva e quieta enseada de branca areia, toda coberta de conchinhas
vermelhas, deram fundo as naus lusitanas.
Três formosos outeiros se erguiam da terra, esmaltados de erva tenra.
Do cume dos outeiros manavam fontes claras e límpidas, que mantinham
sempre verde e viçosa a vegetação, e cuja água corria num leito de pedras
alvas.
Avistava-se mais longe um vale ameno, onde as águas se juntavam em
ribeira, e no qual se estendiam e alargavam à sombra do arvoredo
carinhoso.
Mil árvores ali mostravam os seus pomos perfumados: laranjas, cidras e
limões...
Outras árvores sombreiam o vale — álamos, loureiros, mirtos, ciprestes que
sobem direitos para o céu, cerejeiras, amoreiras, pessegueiros, que
estavam carregados de frutos.
Romãzeiras, com as suas romãs cor de rubim, enlaçavam-se aos ramos dos
ulmeiros. E havia pereiras com peras enormes, que os pássaros gulosos
debicavam.
No chão, a erva era um tapete rico, onde os narcisos e as anémonas
cresciam à beira de uma nascente serena.
Goivos e lírios roxos, rosas e cecéns, que o orvalho refrescara, manjeronas
e jacintos, tudo cresce e brilha naquele vale aconchegado.
E não faltam também os animais amigos do homem — cisnes e rouxinóis,
veados mansos, lebres fugitivas, gazelas tímidas e carinhosas aves levando
no bico o alimento para os seus filhinhos implumes...