Page 69 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Henrique, cujos marinheiros chegaram até ao Hemisfério Sul. E pelos
Portugueses foi trilhado todo o Atlântico imenso, até aos fins dos litorais da
África.
«Agora, aqui estamos», continuou Vasco da Gama, «tendo chegado ao
último limite que ambicionávamos.
«E o que queremos de ti?
«Só que nos dês um sinal, um testemunho, que levemos ao nosso Rei, e que
seja a garantia de que estivemos neste lugar. Não é outra a verdade. Tudo
o mais é mentira...»
Por fim, o Capitão pediu ao Rei que o deixasse partir e que, se ainda algumas
dúvidas tinha sobre os seus propósitos, meditasse bem no que dele ouvira.
Um juízo claro nunca poderia ver falsidade nas suas palavras.
O Samorim ainda hesitava...
Mas a segurança com que falava o almirante da frota portuguesa era tão
grande, que lhe deu licença para voltar a bordo, recomendando-lhe que
enviasse qualquer mercadoria boa para trocar pelas especiarias da índia.
Como essas especiarias, produtos da região, constituiriam prova suficiente
de que a frota chegara à índia, Vasco da Gama saiu imediatamente do
palácio e reclamou do Catual uma embarcação para ir a bordo do seu navio.
O Catual, no entanto, ainda crente nas insídias dos Mouros, e vendo-o só e
confiado, prendeu-o!
Imagine-se o desespero do heroico português!
Gritou, protestou — mas o Catual, para se desembaraçar dele, já pensava
em matá-lo e em matar todos os Portugueses! Até o quis persuadir de que
mandasse aproximar a armada mais à terra, para melhor e mais facilmente
a desbaratar...