Page 67 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Vasco da Gama estava na cidade, esperando que o Samorim dissesse
alguma coisa sobre o tratado de aliança e comércio que lhe tinha proposto.
O Samorim, porém, já aconselhado pelos seus cobardes ministros, ia
demorando, demorando a resposta...
O que vale é que Vasco da Gama era mais inteligente do que todos os
Mouros e índios juntos!
E como afinal o que desejava era trazer para Portugal e entregar ao seu
soberano uma prova certa de que tinha chegado a paragens tão remotas, e
realizado a viagem que se comprometera a fazer, não se incomodava muito
com a ideia de não concluir o tratado.
Contentava-se em partir da índia sem mais dificuldades e em levar consigo
uns tantos produtos da região, para os mostrar em Lisboa.
Satisfeito com essa ideia, pede uma audiência ao Rei, para se despedir sem
mais complicações.
O Samorim que, atemorizado pelos Mouros, receava os Portugueses, mas
que também ambicionava colher os lucros e vantagens que estes lhe tinham
prometido, mandou então chamar o grande Almirante.
Vasco da Gama veio logo e entrou serenamente nos aposentos reais. Como
não queria mal a ninguém, nem tinha intenções ocultas, ia perfeitamente
sossegado.
0 Rei começou por lhe declarar insolentemente que o julgava um mentiroso
e que bem sabia que ele não era embaixador de pais nenhum, mas um
vagabundo dos mares — pois nenhum rei do Ocidente se atreveria a enviar
tão longe, e por tão incertos caminhos, uma frota tão numerosa e tantos
homens, com risco de se perderem todos a cada momento.
De mais a mais, nem presentes lhe trazia para demonstrar que era
representante de um verdadeiro Rei!