Page 66 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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E, por isso, no sonho do sacerdote, apresenta-se disfarçado no profeta
Maomet, que os Infiéis adoravam, e falsamente denuncia os Portugueses
como muito capazes, assim que se sentissem com mais força, de guerrear,
combater e expulsar todos os Mouros!
O mouro, assustado, acorda cheio de medo.
Mas, depois de acordar, lá se convence, pensando melhor, que não deve
acreditar em sonhos. Adormece de novo, mais tranquilo.
Assim que volta a dormir, Baco reaparece-lhe e insiste nas suas
ameaçadoras profecias. Era um inimigo perigoso, como mais uma vez se
vê... E, não desistindo das suas más intenções, aconselha o mouro a que
não se demore a tomar providências rápidas, antes que os Portugueses se
apossem da índia inteira!
Desperta o sacerdote outra vez. O sonho aflige-o tanto, que não pode
tornar a adormecer. Levanta-se da cama, inquieto, e sai para a rua. E o que
faz? Chama e convoca os seus e narra-lhes o que sonhou. Os Mouros, que
não viam os nossos com bons olhos, acreditam em tudo quanto ele diz. E o
ódio contra os Portugueses começa a ferver, a subir, como labareda de
lume forte...
Prudentes e medrosos, os Mouros resolvem dissimular, não combatendo
frente a frente...
Decidem antes espalhar, entre os índios mais importantes, que Vasco da
Gama e os seus companheiros provocariam em breve grande catástrofe. A
sua ideia era levar o Rei a prendê-los ou a expulsá-los de Calecute, e talvez
até a matá-los do primeiro ao último.
Dão até grandes presentes aos Catuais que governavam aqueles povos,
para melhor os convencer a voltarem-se contra os Portugueses...