Page 65 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Apenas, disse, não seria possível encontrar pintores e arte bastante para os
pintar a todos...
O Catual não perdera uma só palavra do que ouvira, nem afastava os olhos
das gloriosas figuras ali representadas.
Parecia que, das informações colhidas, de tudo o que observara e
aprendera, se inspiraria para levar ao Samorim
conselhos de simpatia e de auxílio aos Portugueses, cuja aliança e amizade
só vantagens trazem a quem as saiba apreciar...
Mas, antes mesmo de chegar a terra, já infelizmente as coisas corriam
muito mal para os nossos.
O Rei mandara chamar os seus ministros, que também costumavam,
naquele país, ser bruxos e adivinhos...
Adivinhos que muitas vezes se enganavam, felizmente!
julgavam poder decifrar o futuro! Ora os sinais que eles descobriram no
futuro a respeito dos Portugueses eram mentirosos — todos contrários à
lealdade dos nossos navegadores.
Anunciavam que eles destruiriam a gente e riquezas dos índios, e
ameaçavam estes de perpétuo e feroz cativeiro!
O Rei acreditou em tais mentiras e, como é natural, encheu-se de terror.
Tanto mais que o eterno inimigo dos Portugueses, o teimoso e pérfido Baco,
aparece em sonhos a um sacerdote mouro que habitava em Calecute, para
o assustar sobre as intenções dos Lusitanos.
Os Mouros, muito numerosos e muito bem tratados na índia, enriqueciam
ali com o comércio de pedras preciosas, sedas e especiarias, comércio que
mantinham há muito tempo com os naturais.
Baco bem sabia quanto eles receavam ser expulsos ou prejudicados no seu
trabalho e negócios,