Page 89 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Outras regiões contemplas agora» — prosseguiu a Ninfa —, «regiões ainda

                  ignoradas pelos teus e por todo o Mundo, e algumas povoadas de selvagens


                  que se alimentam de carne humana e tatuam o corpo com ferro em brasa.

                  «Em Camboja, na foz do Mecongue, naufragará um dia Luís de Camões...

                  Os Lusíadas, que nunca abandona, são levados pelas ondas e ficam a boiar

                  nas águas revoltas, entre procelosos baixios. Camões lança-se ao Mar, salva

                  o manuscrito precioso, e, nadando só com um braço, entrará no remanso


                  do  rio.  Cansado,  exausto  quase,  na  mão  livre  segurará  o  poema  bem-

                  amado, em que louvará e cantará o seu Povo e a sua Pátria...

                  «Até â China, até ao Japão, podes continuar a seguir a costa.

                  «Olha ainda as infinitas ilhas espelhadas pelos mares do Oriente — uma,

                  onde nasce a árvore do cravo; outra, onde um vulcão lança as suas chamas


                  até ao céu; outra, onde as aves do Paraíso, que nunca se viram descer à

                  Terra senão mortas, brilham no ar como o Sol...

                  «E as ilhas de Banda, cobertas de árvores da noz, povoadas de milhões de

                  aves formosas que de nozes se alimentam... E Boméu, onde a cânfora flui e

                  cai, em lágrimas transparentes, da planta que a produz.


                  «E a Ilha de Timor, rica de sândalo perfumado, tão benéfico para a saúde. E

                  mais  ilhas  ainda,  que  dão  benjoim,  oiro  e  pedras  preciosas,  todas  as

                  riquezas, todas as essências, não sendo a menos estranha aquela onde uma

                  fonte se vê, manando e escorrendo óleo...

                  «Para o lado de cá, Ceilão, coroado por um alto monte, que os naturais


                  julgam  milagroso.  E  as  Maldivas,  Socotorá,  Madagáscar...  Tudo  isto  vós

                  ofertais agora ao Mundo, abrindo as portas do Mar que navegastes com

                  tanta coragem... Tudo isto — esse Oriente que vindes agora de alcançar e

                  descobrir...
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