Page 97 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
P. 97

lhe valeu foi poder abraçar-se a um rochedo alto, e esperar assim que um

                  barco  o  viesse  buscar.  N’Os  Lusíadas  e  numa  outra  célebre  poesia  sua,


                  Camões evoca o doloroso caso, falando do:

                  ...«Canto que molhado

                  «Vem do naufrágio triste e miserando,

                  «Dos procelosos baixios escapado».

                  Cinco anos tinham passado desde a sua partida de Lisboa. As saudades da


                  Pátria eram maiores do que nunca. Mas, em Goa, esperava-o a prisão! Os

                  seus adversários, que eram poderosos, tinham conseguido convencer as

                  autoridades de que o poeta, o herói, o grande português era — o quê? Um

                  ladrão!

                  Preso  ficaria  muito  tempo,  se  dois  amigos  de  Camões  —  lembremos  e


                  respeitemos, com orgulho, os seus nomes ilustres: Álvaro da Silveira e D.

                  Coutinho de Bragança — não tivessem chegado a Goa nessa ocasião. E,

                  como o segundo vinha desempenhar o cargo de Vice-Rei, logo teve força

                  para mandar pôr em liberdade o poeta injustamente encarcerado.

                  Alguns anos ficou ainda Camões em Goa — tomando parte em várias e


                  perigosas expedições contra os Turcos e os Mouros. Mostrou a todos que

                  não  só  escrevia  versos  como  mais  ninguém,  mas  que  sabia  também

                  combater ardorosamente os inimigos de Portugal. Como ele próprio diz

                  n’Os Lusíadas, tinha «numa mão sempre a espada e noutra a pena» e o

                  «braço às armas feito e a mente às Musas dada». Toda a sua vida assim foi,


                  e no seu exílio da índia provou e afirmou igualmente o seu génio literário e

                  a sua imensa coragem de guerreiro.

                  Em 1567 consegue arranjar algum dinheiro, que lhe emprestam uns amigos

                  — pois naquele Oriente tão rico o poeta não soubera senão empobrecer,

                  tal o  seu desprezo  das  riquezas  e comodidades  —  e parte primeiro até
   92   93   94   95   96   97   98   99   100