Page 96 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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compôs a maior parte d 'Os Lusíadas e muitas poesias mais curtas, como
sonetos, odes e canções.
Encostava-se a uma pedra, punha o papel nos joelhos, e voltado para o
Oriente — enchia páginas e páginas com as estrofes em que narrava e
cantava as proezas de Vasco da Gama e de todo o povo português. Assim
afugentava ou tentava esquecer as saudades da Pátria.
O fiel Jau sentava-se ao lado dele; e, quieto silencioso, seguia cheio de
respeito o trabalho do seu senhor. Camões tratou-o sempre muito bem —
e trouxe-o depois para Portugal. Naqueles momentos, gostava de sentir ao
pé de si a presença do companheiro afetuoso e dedicado, verdadeira
consolação para as maiores tristezas e dificuldades. Talvez por isso, e
embora constantemente desejoso de voltar a Portugal, a sua estada em
Macau não foi muito desagradável! Ao menos, podia consagrar-se
livremente à composição do poema que trazia na alma e na imaginação há
tantos anos!
Mas nem aí o deixaram descansar. Os seus inimigos da índia não o
poupavam, e acusaram-no falsamente de ter roubado. Para se defender da
acusação, voltou a Goa. Na viagem de Macau para Goa, naufragou. O barco
onde vinha foi ao fundo na foz do Rio Mecongue, na costa do Camboja
(Indochina). Perderam-se haveres, mercadorias e passageiros. Camões
tudo perdeu, também.
Até o manuscrito d’0s Lusíadas, que ele trazia sempre consigo, se perderia
— se o poeta, vendo-o boiar nas ondas, se não lançasse à água para o salvar,
indo apanhá-lo, todo molhado já entre as espumas do Mar embravecido.
Camões escapou então por muito pouco de morrer afogado. O que