Page 98 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Moçambique, onde, depois de dois anos, embarca no navio que o
transportaria a Portugal. De Moçambique a Lisboa, viajou de graça. O pouco
dinheiro que arranjara — não era bastante para o regresso tão desejado...
Enfim, em 1570 chega a Lisboa. A peste devastava a capital, e a frota em
que vinha o navio conduzindo o poeta teve de fundear em Cascais, antes de
entrar a barra, à espera de autorização do Rei para o desembarque dos
passageiros e mercadorias.
Mais um contratempo, que o poeta sofreu sem queixas. Mas ao menos
avistara já a sua terra, e breve poderia sentir o carinho do berço natal. No
entanto, ao desembarcar alguns dias depois, encontrou a cidade com um
aspeto muito triste — casas e lojas fechadas, e as ruas abandonadas de
multidão...
Tratou logo Camões, apesar de tudo, de publicar Os Lusíadas. A impressão
do poema terminou em 1572 — e Camões, que os oferecera ao Rei D.
Sebastião, leu-os no paço real. O Rei deu-lhe uma pensão que, razoável
embora para aquela época, não era a recompensa devida a tão grande
génio e tão insigne patriota. O poeta continuou a viver pobremente.
Pobre morreu, em 1580. Quando morria — conta-se —o seu fiel Jau levava-
lhe a notícia do desastre de Alcácer Quibir...
«Pátria, ao menos, juntos morremos» — exclamou ele então, segundo
narra Almeida Garrett no seu poema Camões. Que estas palavras sejam ou
não autênticas, é o que ninguém assevera... Mas a verdade é que a vida de
Camões se extinguiu no mesmo ano em que morreu D. Sebastião e em que
Portugal adivinhava já, ameaçadora e teimosa, a cobiça de Espanha.
Durante sessenta anos seríamos, de facto, governados pelos reis desse país,
outrora inimigo.