Page 103 - As Viagens de Gulliver
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vestígio algum de habitantes, o que forçou nossa gente a costear a margem para
procurar água doce junto do mar. Quanto a mim, passeei só e caminhei
aproximadamente uma milha dentro dessas terras, que percebi logo serem
apenas uma região estéril e cheia de rochedos. Principiei a aborrecer-me, e, não
vendo coisa alguma que pudesse satisfazer a minha curiosidade, tornei
tranqüilamente para a enseada, quando vi os nossos homens na chalupa, que
pareciam tentar, à força de remos, salvar a vida, e notei ao mesmo tempo que
eram perseguidos por um homem de tamanho descomunal. Ainda que entrasse
pelo mar dentro, a água apenas lhe chegava aos joelhos e dava espantosas
pernadas; os nossos homens, porém, tinham o avanço de quase meia légua e
como o mar neste ponto era cheio de rochedos, o homenzarrão não pôde
alcançar a chalupa. Por minha parte, desatei a fugir tão rapidamente quanto as
pernas mo permitiam, e trepei até ao cume de uma escarpada montanha, que
me proporcionou o meio de avistar uma parte da região. Achei-a muito bem
cultivada; mas o que a princípio me surpreendeu foi o tamanho da erva, que me
pareceu ter mais de vinte pés de altura.
Tomei por uma estrada que se me afigurou para os habitantes uma
pequena vereda que atravessava um campo de cevada. Por aí caminhei durante
algum tempo, mas eu nada podia ver, porque o tempo da ceifa estava próximo e
os trigos tinham a altura de quarenta pés. Caminhei seguramente uma hora antes
de que conseguisse chegar ao extremo desse campo, que era defendido por uma
sebe alta, de uns cento e vinte pés; quanto às árvores, essas eram tão grandes, que
não lhes pude calcular a altura.