Page 142 - As Viagens de Gulliver
P. 142
Lembro-me de uma manhã, em que Glumdalclitch, colocando-me na
minha caixa sobre o parapeito de uma janela, como habitualmente fazia em dias
bonitos, para que eu apanhasse bom ar (não me aventurava a que ela me
pendurasse a caixa num prego, fora da janela, como costumamos fazer com as
gaiolas em Inglaterra), depois de eu ter levantado uma das janelas de guilhotina e
me ter sentado à mesa a comer um pedaço de bolo como pequeno-almoço,
cerca de vinte abelhas entraram-me no quarto, atraídas pelo cheiro, zumbindo
tão alto como outras tantas gaitas de foles. Algumas delas apoderaram-se do meu
bolo e levaram-no, enquanto as outras voavam à minha volta, pondo-me fora de
mim com o barulho e aterrorizando-me de morte com a ameaça dos seus
ferrões. Tive, contudo, coragem para me erguer e, desembainhando a espada,
atacá-las no ar. Matei quatro, enquanto o resto se pôs em fuga, fechando a janela
logo a seguir. Estes insetos eram tão grandes como perdizes e, quando lhes
arranquei os ferrões, vi que tinham uma polegada e meia de comprimento e que
eram tão aguçados como agulhas. Guardei-os a todos muito cuidadosamente, e,
desde então, tenho-os mostrado, juntamente com outras curiosidades, em vários
países da Europa. Quando do meu regresso a Inglaterra, cedi três para o Colégio
de Gresham e guardei o quarto para mim.