Page 164 - As Viagens de Gulliver
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Afastei-me logo para o outro canto da minha caixa, mas, com o macaco
      a  olhar  lá  para  dentro  tão  insistentemente,  assustei-me  tanto  que  me  faltou  a
      presença de espírito para me esconder debaixo do leito, o que teria sido feito com
      facilidade. Depois de muito espreitar, arreganhar os dentes e dar guinchos, deu
      finalmente comigo, e, introduzindo uma das mãos pela porta, como um gato faz a
      um rato, apesar de me esquivar, acabou por me agarrar pela aba do casaco (que,
      sendo feito de uma seda deste país, era muito espesso e forte), arrastando-me
      para fora. Pegou-me na sua mão direita, como uma ama a uma criança que vai
      amamentar e como eu já vira na Europa uma criatura idêntica proceder com
      um gatinho; mas, quando eu tentei resistir, ele abanou-me tão fortemente que eu
      achei  mais  prudente  submeter-me.  Tenho  boas  razões  para  crer  que  ele  me
      tomou por uma cria da sua própria espécie, pois ele, com a sua mão, acariciava-
      me frequentemente a cara. Nisto, foi interrompido por um barulho na porta do
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