Page 101 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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consigo mesmo ao lidar com Brad. Não quer fazer isso de novo.

                  – Não tenho tempo – disse Matt. – Tenho muita coisa para estudar.
                  Uma pausa.
                  – Você sabe que ela não quer que você a ajude de verdade, certo?

                  – Vá dormir, Foggy.
                  – Claro. Só estou dizendo. Você entende o que ela está te pedindo?

                  – Sim, Foggy.
                  – Tem certeza? Porque tenho a sensação de que você não sabe.

                  As molas rangem quando Foggy se inclina no colchão e olha para Matt.
                  –  Tipo…  o  que  estou  tentando  dizer  é  que  a  única  coisa  com  que  ela

                precisa  de  ajuda  é  estudar  biologia.  –  Matt  ainda  não  reage.  –  Biologia
                humana.
                  Matt joga o travesseiro nele.

                                                           • • • •

                  Ele espera até que Foggy caia no sono, e então se levanta da cama. Veste

                seu traje preto e seus tênis. Se alguém perguntar, ele pode dizer que não
                conseguia dormir e saiu para correr.

                  O que é verdade.
                  Até certo ponto.
                  Não  que  ele  tenha  muita  escolha.  Uma  boa  noite  de  sono  está  fora  de

                questão quando se divide um quarto com Foggy Nelson. O ronco de Foggy
                é surreal – uma bufada áspera cheia de fleuma, que faz até o cara do quarto

                ao lado bater na parede.
                  Matt não se importa. Mesmo que tivesse um quarto só para si, ainda não
                seria capaz de dormir. Como poderia, com o vento chamando por ele?

                  Ele fala com Matt, traz as notícias do dia. O vento ataca, vem do oceano,
                feroz e amargo, congelante, trazendo conselhos dos navios de carga e dos

                barcos de pesca. Chacoalha antenas parabólicas e faz com que os fios de
                energia vibrem, deixando em seu rastro redemoinhos de neve. Rosna por

                entre os cânions de concreto, faz os galhos nus das árvores se debaterem.
                As  folhas  velhas  e  os  troncos  secos  se  soltam  e  rodopiam  pelo  ar  como

                fadas.
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