Page 102 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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E Matt o segue, saltando pelos telhados, para ver o mundo se
descortinando abaixo dele.
Um padeiro dá alguns pães que acabaram de sair do forno para um
morador de rua que treme de frio diante de sua porta.
A música tocando nos rádios dos carros e dos táxis – uma centena de
idiomas diferentes falando as gírias da rua.
Matilhas de cães gemem e latem, procurando comida, lutando uns com os
outros na guerra eterna por território e domínio. Uma luta até a morte, e o
cão triunfante uivará para a lua, talvez sentindo o clamor do sangue
ancestral, de um tempo em que os lobos corriam pelas estepes.
E, por cima de tudo isso, Matt Murdock se abre para o vento e aproveita
essa celebração.
Navega pelo espaço entre os edifícios. Salta, pousa, rola, e se levanta para
correr novamente, com seus passos leves. Sobre uma chaminé, saltando
para o céu. Os braços abertos – voando, planando. Acima de tudo.
Move-se graciosamente.
Ele pousa e continua a correr, sem parada, até o próximo edifício, este é
mais alto. Segura-se na escada de incêndio. O metal gelado em sua mão. Os
músculos do ombro se tensionam, puxando-o para cima da escada e por
sobre as bordas.
Acelera novamente, dando cambalhota sobre os telados, equilibrando-se
nos fios de alta-tensão – devagar, calmo.
E então…
… um súbito movimento no canto de seu olho. Matt para. Congela. Alerta.
Rapidamente se esconde nas sombras.
Tem mais alguém ali. Matt estende seus sentidos ao redor.
Ali… um cheiro. Humano e fragrante. Perfume: jasmim, flor de laranjeira.
Como um dia fresco de verão. Uma mulher. Ele move a cabeça lentamente,
tentando descobrir de onde vem o cheiro.
Ali. O pulsar de uma batida cardíaca, acelerada de excitação. Aparece, e
então some, passando por ele como um trem na noite.
Uma respiração, um suspiro. Um sorriso no vento.
Ele sai das sombras para o campo aberto. Sente o vento tocar sua face.