Page 130 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Quatro anos atrás.

                  Wilson Fisk acha o inverno uma época gloriosa.
                  Ele se levanta às 4h30 todas as manhãs só para olhar pela janela e ver a

                cidade  lá  embaixo.  A  pureza  dessa  visão  lhe  agrada.  As  infinitas
                possibilidades de uma camada de neve fresca cobrindo a sujeira e a escória.

                  A sujeira vai voltar, é claro. Sempre volta. O lodo. O lixo. O gelo negro. A
                lama. Mas, por um breve momento, a cidade é nova e está esperando.

                  –  Os  tempos  estão  mudando,  Rigoletto.  Há  crianças  na  rua  competindo
                conosco. É vergonhoso.

                  Fisk se vira para a janela, onde vê que a neve já se tornou lama nas ruas
                abaixo. Três horas. É o tempo que leva para a cidade novamente se tornar
                imunda.

                  Ele leva sua forma maciça para o lado, deixando que a luz flua para dentro
                do  recinto.  Fica  parado  –  observando,  esperando  –  nas  sombras  da

                conferência  da  cúpula  dos  líderes  do  submundo  de  Manhattan.  Dez  dos
                homens  mais  importantes  da  cidade.  Rigoletto  convocou  a  reunião  por

                sugestão de Fisk. Ele sempre faz o que Fisk sugere – desde que Fisk salvou
                sua vida.

                  –  Competindo?  –  pergunta  bruscamente  Marcelle  Beaks.  Ele  controla  o
                comércio  que  entra  e  sai  das  docas,  tirando  as  mercadorias  ilegais  dos
                barcos.  –  Não  estamos  competindo.  Eles  estão  nos  fazendo  comer  poeira

                porque sabem o que as pessoas querem.
                  Drogas  sintéticas,  pensa  Fisk.  É  o  que  querem.  Ele  observa  o  rosto  de

                Rigoletto, vê a raiva retorcendo seus traços velhos e cansados.
                  – Temos que pensar em nossas famílias – continua Beaks. – Em nossos

                funcionários.  Precisamos  mudar  conforme  os  tempos  mudam,  Rigoletto.
                Extorsão por proteção, traficar cigarros no mercado negro… já não dá mais

                lucro.
                  – Chega! – esbraveja Rigoletto. – Não quero mais ouvir isso.
                  Al Spilotro se inclina para a frente.
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