Page 127 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Consegue voltar para a cidade, embora não tenha muita certeza de como.
Seus sentidos vêm e vão, sua percepção aumenta e diminui. Ele não tem
ideia de quantas vezes já caiu e se reergue. Está suando, congelando. O
sangue ainda escorre pelo seu braço e pinga pelas pontas dos dedos. Ele
rasteja fundo para dentro de si mesmo, tentando trancar a dor lá dentro.
No meio de ondas de agonia e náusea, no meio de rajadas de frio úmido e
gelado, no meio de ondas de calor intenso e febre, ele luta para manter a
concentração, para achar a força de que precisa.
Até que, finalmente, está de volta ao dormitório. Vazio. Ninguém
acordado para vê-lo.
Entra no quarto. Passa por Foggy, roncando e bufando. Passa por sua
cama e entra no banheiro. Inclina-se sobre a pia, o sangue escorrendo pelo
ralo.
Limpe o ferimento.
Fique consciente.
Pare o sangramento.
É um mantra simples e ele o repete várias e várias vezes enquanto tateia
com apenas uma mão o armário de remédios procurando por curativos e
antisséptico.
Pare o sangramento.
Fique consciente.
Duas das coisas mais importantes na sua vida neste momento. Se falhar
em qualquer uma das duas, sabe que estará morto.
Ele apalpa o braço. Acha a saída do ferimento e quase tem um colapso de
alívio: a bala não está alojada lá dentro. Não precisa ir ao hospital.
Usa os dentes e os dedos para envolver o braço, desajeitadamente,
apertando a atadura contra o ferimento. Está atordoado. Exausto. Pega
alguns analgésicos, fortes, e se inclina em cima da pia, respirando fundo e
devagar.
Idiota, idiota, idiota. Ele deixou as emoções ficarem no caminho de novo,
e isso quase o matou. Quando vai aprender?
Joga água no rosto. O nariz estava entupido pelo cheiro do próprio sangue
e medo – mas agora, conforme limpa o rosto, ele capta outro aroma.