Page 154 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Ben olha na sua direção. Ergue a mão, cumprimentando-o.
– Trabalhando em uma grande história? – pergunta do outro lado do
escritório.
Gabe quase ri. Ele não acha que Urich seja inexperiente. Dizem que o
homem já está no jogo há mais de uma década. Mas ele parece ainda ter
aquele otimismo que os novos jornalistas têm, de quem acredita que há uma
grande história em algum lugar lá fora, uma que vai fazer seu nome. Gabe
provavelmente deveria mandar um papo reto, mas não mandar faz com que
ele se sinta melhor a respeito de si mesmo. Não porque esteja protegendo o
cara, mas porque acha que o cara tem de sentir o mesmo que Gabe sente.
Nos próximos meses, seus ombros vão cair, seu rosto vai ficar mais
enrugado e cheio de linhas de expressão por conta da bebida e das noites
mal dormidas, e ele vai se tornar igual a todos os outros que trabalham no
jornal. Seu aprendizado terá chegado ao fim.
Jesus, mas ele é mesmo um bosta. Sério. Quem pensa desse jeito? Sente-
se péssimo. Então, um segundo depois, sente-se bem por se sentir péssimo.
Isso significa que ainda tem alguma humanidade ali, certo? Que ele pode se
sentir mal por ter esses tipos de pensamentos?
Seu telefone toca.
– Mcavoy.
Uma respiração nervosa do outro lado da linha.
– Eu… preciso falar com alguém da parte policial.
– Sim, sou eu.
– Ah… eu tenho… algumas informações para você.
– Sim? – Mcavoy se pergunta o que vai ser hoje. Um cara que pensa que
seu vizinho é um serial killer? Ou um cara querendo incriminar falsamente
a esposa traidora. Ou talvez ele queira dedurar o chefe por evasão fiscal.
Todos os tipos de ligações com as quais teve de lidar no último mês.
– Sim. É sobre… sobre Rigoletto.
Mcavoy pisca. Ele leva um segundo para se dar conta de que ouviu certo.
Ajeita-se na cadeira.
– Rigoletto?
– Sim.