Page 163 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
P. 163
enquanto ele luta no ringue, e o súbito grito da plateia.
Enquanto pensa no passado, outro som lhe vem à mente: a campainha
elétrica que anunciava o recreio. O recreio e o apelido que ele passou a
odiar. O apelido que tirava sarro tanto dele quanto de seu pai.
Demolidor.
As garotas riem e apontam.
Demolidor.
Os valentões acertam sua barriga e, em seguida, seu rosto.
Demolidor.
A corrente atinge suas costas.
Demolidor.
E a escola inteira – o mundo inteiro – ri dele.
Demolidor.
Demolidor.
Demolidor.
– Ei, cegueta. O que está fazendo aqui fora? Aqui é perigoso de noite,
cara.
Matt não se move. Ele deixa suas lembranças o soterrarem, o distraírem.
Estúpido. Ele conhece aquele tom de voz. A arrogância. A crueldade. É
engraçado como as coisas funcionam. Ali está ele pensando nos valentões, e
o universo entrega um deles de bandeja. Quanto mais as coisas mudam…
Ele sorri e se vira.
– Não tem porque sorrir, cegueta.
– Aí eu já não sei.
– Você é louco, cara? – Outra voz. Mais alta. Nasal. – Você vai morrer
aqui.
– Verdade? – Matt separa um pouco as pernas e se equilibra levemente
sobre os pés. – Acho que eu deveria dizer, apenas de praxe, sabe… que eu
não quero encrenca.
Risadas. Quatro… não, cinco.
– Você não quer encrenca? – A primeira voz novamente. O líder.
– Devia ter pensado nisso antes de aparecer aqui com um terno de mil
dólares.