Page 166 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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até as cordas, e esfrega as mãos na lona coberta de pó. Segura as cordas,
sente sua aspereza contra a palma das mãos.
Neste momento se dá conta de que não está sozinho.
Há outra batida de coração. Rápida. Assustada.
Matt se endireita devagar e se vira na direção do som.
– Pode sair – ele diz, tentando manter a voz calma. – Não vou machucá-lo.
A frequência cardíaca aumenta. Uma respiração preocupada. Ele quase
pode ouvir a voz enquanto o ar passa pela garganta. Jovem. Uma menina.
O estalo de madeira. A borracha se esticando. Um súbito lançamento, um
assobio do ar.
As mãos de Matt agarram a bola a alguns centímetros do rosto.
Uma pausa.
– Como você faz isso?
Estava certo. Uma menina. Cerca de quinze, dezesseis anos.
Ele larga a bola de ferro. Bate com força no chão de madeira, ecoando
pelo ginásio.
A garota se move para a frente. Ele pode sentir que ela o encara.
– Por que está usando óculos escuros? Sabia que isso é muito triste? Usar
óculos escuros à noite? Você acha que isso te deixa mais legal? Porque não
deixa. Fazer você parecer um velho se esforçando demais.
– Sou cego.
– Sério? – Ela ri, e Matt fica feliz em ver que já não há mais embaraço. –
Foi mal. Desculpa, cara.
– Tudo bem.
– Então… você ainda tem seus olhos?
– Sim. Ainda tenho meus olhos.
– O que aconteceu? Você nasceu desse jeito?
– Você faz muitas perguntas.
– Sou jovem. Tenho que fazer. Então? Você nasceu assim?
– Não. Foi um acidente.
– De que tipo?
– Não quero falar disso. Qual seu nome?
– Mickey.