Page 162 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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Três semanas atrás.

                  Faz  muitos  anos  que  Matt  não  volta  para  sua  cidade  natal.  E  não  tem
                qualquer prazer em estar ali, particularmente agora – lembranças ruins têm

                o hábito de se agarrar e não soltar mais –, mas ele não tem escolha. Seu
                chefe do escritório de advocacia em Boston insistiu.

                  – Olha. Honestamente, não estou nem aí se você quer ir ou não. Você está
                a caminho de se tornar um sócio minoritário. Isso significa que você tem

                que fazer o trabalho chato. Além disso, é sua casa. Você conhece o lugar.
                Então, faça as malas.

                  E ali está ele. Andando pelas ruas da Cozinha do Inferno depois de todo
                esse  tempo.  Surpreende-se  com  o  tanto  que  mudou.  E  não  no  sentido
                normal, como lembrar-se da infância por meio de um filtro de inocência.

                Está  realmente  mudado.  O  lixo  amontoado  na  rua  como  se  os  lixeiros
                estivessem  com  medo  de  entrar  na  área.  Grafites  cobrindo  todas  as

                superfícies  disponíveis.  Mendigos  e  viciados  encostados  em  todos  os
                lugares, olhares nervosos procurando pelo próximo alvo com quem descolar

                algum dinheiro para droga. Um civil no lugar errado.
                  Matt pode sentir seus olhares sobre ele. Não está preocupado. Pode dar

                conta  disso.  Na  verdade,  não  importa  o  quanto  as  coisas  tenham  ficado
                ruins,  ele  realmente  se  sente  mais  seguro  ali  agora  do  que  quando  foi
                embora para a faculdade. Esse é seu lar. Os tijolos e as ruas estão inseridos

                em  seu  DNA.  Conforme  caminha  pela  velha  vizinhança,  vem  um
                sentimento  de  posse  –  esses  viciados  e  traficantes  são  invasores,

                sequestradores que vieram roubar suas memórias.
                  Ele continua caminhando, a noite fria o envolvendo. Ele sente a cidade

                pulsar, as batidas dela no mesmo ritmo das suas. Ele caminha e caminha,
                apenas deixando o vento o levar aonde quiser, até que sente o cheiro do pão

                recém-assado. A padaria do Pascal.
                  Os  anos  desaparecem.  Ouve  o  ruído  das  rodas  de  seu  skate,  os  gritos
                furiosos  do  policial  Leibowitz.  O  baque  do  gancho  direito  de  seu  pai
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