Page 51 - Demolidor - O homem sem medo - Crilley, Paul_Neat
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– Se eu fosse fazer isso, eu escolheria alguém muito mais esperto do que
você. Agora, chega de falar. Vá de novo.
Matt aumenta a tensão na corda. Respira fundo, recua até o quarto seguro
em sua mente. Dessa vez ele bloqueia tudo, com exceção de si mesmo, do
arco e do alvo. Concentra-se completamente neles, respirando lentamente,
até que nada mais exista.
Sente a tensão em seu ombro, em seus bíceps, em seus pulsos doloridos e
nos dedos trêmulos. Sente a flecha, das rêmiges à ponta. Puxa a flecha para
dentro de seu ser até se tornar parte dele. Então ele estende seus sentidos até
o alvo, atraindo-o para si, sentindo as linhas invisíveis de consciência que
ligam a flecha até a madeira.
E solta.
Tanc.
– Consegui! – Matt baixa o arco, ignorando a dor que queima em suas
costas e pescoço. – Eu consegui! Acertei na mosca?
– Não.
Matt esvazia de decepção. Afinal, depois de tudo, ele esperava ter
conseguido atingir o centro.
– Mas você atingiu a madeira. É um começo. Agora, faça de novo.
– Mas…
– De novo!
• • • •
As estações passam. Meses ficam para trás de Matt em uma neblina de
exaustão e euforia. Ele se sente como um mágico. Seus sentidos são poderes
que ele pode usar, poderes que fazem dele algo… mais. Algo melhor.
As noites são as melhores. Quando acorda horas antes do amanhecer e sai
pela janela da escada de incêndio, onde Stick sempre está esperando.
Eles sobem ao teto e cruzam a cidade, não veem a vida abaixo deles e não
se importam com ela. A escuridão os envolve, esconde a dança deles por
sobre os telhados, onde a distância entre os edifícios é um desafio e a altura,
algo a ser ignorado. Nessas noites, a única coisa que importa para Matt é o
vento em seu rosto, os tremulantes tons de cinza que delineiam as formas.