Page 77 - Processos e práticas de ensino-aprendizagem
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Como uma forma de socialização, a matriculamos no maternal: uma forma de eu
               também voltar a estudar. Segundo um teste vocacional, minha aptidão estava na leitura,

               na escrita e nas letras e, assim, encontrei sentido em fazer o pré-vestibular para tentar o
               curso  de  licenciatura  em  Letras  –  português-literaturas.  E  assim,  entre  mamadeiras,

               fraldas, gracinhas que Flor foi aprendendo na escolinha eu consegui passar no vestibular
               para  o  curso  de  Letras  da  Universidade  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro  e  comecei  no

               segundo semestre de 1997.


               A decepção com o Ensino Superior Público


                      Nem tudo são flores e alegrias: quando alcançamos um objetivo grandioso em
               nossa vida não significa que a jornada chegou ao fim. Foi o começo de uma rotina pesada,

               onde só o deslocamento para a universidade, muitas vezes, levava mais tempo do que a
               própria  aula:  paralisações,  greves,  o  discurso  fatalista  de  que  a  universidade  pública

               chegaria  ao  fim,  entre  outros  absurdos  que  presenciei  em  uma  das  universidades
               públicas mais conceituadas do meu estado, me fizeram desanimar mais uma vez.

                      Como  conciliar  tanta  coisa  importante  para  estudar  com  professores
               descompromissados  com  a  aprendizagem,  com  a  precariedade  de  recursos  para  se

               manter estudando (tinham desativado o “bandejão” onde os alunos podiam comer uma
               refeição saudável pagando pouquinho). Eu era uma mãe jovem e estudante apenas – isso

               me fechara portas profissionais, mesmo tendo o técnico, isso não era o suficiente.
                      Diante de todos os impositivos, tranquei faculdade. A gota d´água foi minha filha

               ter ficado doente e eu não ter tido uma rede de apoio para me auxiliar naquele momento
               – meu esposo trabalhava o dia inteiro e gerava renda, então eu não tinha como colocar

               mais esse encargo à ele.
                      Minha família era o mais importante. Ela agora já estava com três aninhos e eu

               precisava dar atenção a ela e me preparar para escolher, mais uma vez, o que eu queria
               profissionalmente.


               Outros caminhos


                      Voltei a dar aulinhas particulares de inglês. A gente se vira como pode e essa foi

               uma das minhas melhores escolhas naquele momento, junto com a revenda de produtos

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                       PROCESSOS E PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM: HISTÓRIAS DE VIDA E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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