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Domenico Losurdo 1941-2018*
in memoriam
Stefano Azzarà
Aos lisonjeadores ou aos admiradores sinceros, que lhe
assinalavam quão original e pessoal era seu modo de pensar, Hegel
respondia que, se houvesse algo de pessoal no seu sistema, isso teria
de estar errado. Domenico Losurdo costumava contar esta história aos
seus alunos para explicar qual deve ser a justa abordagem cognitiva
dos estudiosos, especialmente dos historiadores da filosofia. Esta é
também uma citação que sintetiza, de maneira bastante eficaz, o modo
de fazer filosofia a que o próprio Losurdo sempre procurou aderir. Ao
contrário de muitos intelectuais, que mesmo quando falam do mundo
acabam por falar apenas de si próprios e daquilo que lhes é peculiar, em
Losurdo o rigor da objetividade é absolutamente primacial: ou seja, a
obstinada vontade – enraizada na escolha, teoricamente argumentada,
em favor da “opção hegeliana” contra a “opção fichteana” – de
conceber tal trabalho como o desenvolvimento mais coerente possível
das determinações inscritas no objeto, isto é, na coisa em si. A sua
ideia é de que o movimento histórico – cuja compreensão constitui
*O texto de Azzarà foi publicado como editorial de Materialismo Storico, n° 1/2018 (vol. IV). A tra-
dução do original italiano é de Franco Tomassoni, professor do Instituto Português de Relações
Internacionais (IPRI), com revisão de Rui Lopo; a revisão final, com adaptação para o português
do Brasil, é de nossa responsabilidade (JQM). Acrescentamos também, às notas de referência do
original, notas de esclarecimento com a indicação (JQM).
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