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DOMENICO LOSURDO, 1941-2018 | STEFANO AZZARÀ
ou partidarismo era fácil aos seus opositores, assim como a de
justificacionista –, Losurdo sabia que, para ser reconhecido no terreno
acadêmico, deveria ser absolutamente impecável no suposto plano
filosófico “puro” e aparentemente asséptico aos conflitos, no qual os
seus críticos e interlocutores culturais – sempre disponíveis a denunciar
a ideologia em qualquer lado menos em si próprios – se erguiam como
guardiães. Só assim, antecipando todas as objeções e tratando ao
pormenor as fontes, só dominando profundamente todos os autores
tratados – sem se subtrair às questões teoréticas mais subtis –, pôde
permitir-se levar a filosofia para o terreno de uma política entendida
como transposição para o terreno cultural da luta entre emancipação
e des-emancipação. Sua cultura sem fronteiras, que abrangia dois
milênios de história, permitia-lhe olhar também para aquele mundo
desconhecido situado para além das fronteiras do Ocidente. É por isso
que aqueles que criticavam o seu método, mesmo antes de criticarem
as suas posições pessoais, raramente tinham a coragem de o desafiar
publicamente, sabendo que quem precedentemente tinha tentado
tinha saído fortemente derrotado. É por isso que, por exemplo, os
mais renomados conhecedores de Hegel, especialmente aqueles mais
determinados em encerrar o discurso filosófico alemão numa dimensão
conservadora e maioritariamente idealista, respeitavam o seu juízo,
mostrando-se inesperadamente conciliadores quando lhes acontecia
defrontarem-no.
Retornemos ao terreno da objetividade, onde começamos.
Losurdo foi um dos estudiosos italianos mais conhecidos e traduzidos no
mundo. Confrontou-se, sobretudo, com a filosofia clássica alemã e com
a herança à impostação hegelo-marxista avançada por Arturo Massolo
e Pasquale Salvucci, mudando para sempre o nosso conhecimento
deste período histórico.
Com autoconsciência e compromisso com o seu pensamento,
resgatou Kant da “respeitabilidade burguesa e filisteia” , consagrada
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3 LOSURDO, 1983c, p. 14.
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