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MARX, CRISTÓVÃO COLOMBO E A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO | DOMENICO LOSURDO


               revolucionários da história de seu extraordinário destino. Trata-se de
               começar pela revolução que lhes faz referência. A Revolução de Outubro
               fracassou? Sem dúvida, os objetivos perseguidos ou proclamados não
               foram alcançados. Pensamos em Lênin e nos dirigentes da Internacional
               Comunista que vislumbraram o delinear-se da República soviética
               mundial e – em última análise – o desaparecimento das classes, dos
               Estados, das nações, do mercado, das religiões. Não apenas não chegou
               nem mesmo perto de tal objetivo, como não se marchou e nunca se
               conseguiu marchar nessa direção.
                     Estaríamos então diante de um fracasso evidente e total? Na
               realidade, a defasagem entre programas e resultados é própria a cada
               revolução. Os jacobinos franceses não realizaram ou restauraram a po-
               lis antiga; os revolucionários americanos não produziram a sociedade
               dos pequenos agricultores e produtores sem polarização entre riqueza
               e pobreza, sem exército permanente e sem um forte poder central; ao
               transfigurar miticamente a sociedade bíblica, os puritanos ingleses não
               conseguiram ressuscitá-la.
                     O fato de Cristóvão Colombo partir à procura das Índias e desco-
               brir a América pode servir como metáfora para se compreender a dialé-
               tica objetiva dos processos revolucionários. Marx e Engels realçam este
               ponto: ao analisar a Revolução francesa ou a Revolução inglesa, eles não
               começam pela consciência subjetiva dos protagonistas ou ideólogos que
               as invocaram e as prepararam ideologicamente, mas investigam as con-
               tradições objetivas que as estimularam e as características reais do con-
               tinente político-social descoberto, ou iluminado, pelas transformações
               ocorridas; os dois teóricos do materialismo histórico sublinham, portan-
               to, a defasagem entre projeto subjetivo e resultado objetivo, explicando
               finalmente as razões do constituir-se, e do necessário constituir-se, de tal
               defasagem. Por que deveríamos proceder de forma diferente para com
               a Revolução de Outubro? Os que, ao avaliá-la, limitam-se a compará-la
               ao programa socialista ou comunista de Marx e Engels, assim como este
               se apresentava à consciência dos dirigentes bolcheviques, ignoram ou



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