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sensível preocupação das autoridades com o espaço Após a segunda década do século XIX, a Bahia é atingida
destinado às classes pobres de Salvador, principalmente por uma severa crise econômica. O açúcar de beterraba
no início do século XIX, quando a Bahia experimentou das Antilhas e de Cuba desbanca o açúcar brasileiro, e a
um clima de revoltas nunca antes visto. A sincronia economia despenca. O fumo também perde mercado,
entre os projetos de reforma urbana e o controle social e os conflitos da Independência (1822-23) colocam
no centro de Salvador pode ser notada nos discursos Salvador diante de uma crise de abastecimento. O
higienistas e nas reclamações dos moradores em relação tráfico de escravos é combatido pelos ingleses, e a
à presença de agentes de saúde e às obras sanitárias que lei de 1831, apesar de não abolir de vez tal comércio,
invadiam suas propriedades. Em Salvador, no entanto, eleva consideravelmente o preço do escravo. As secas
ao contrário do ocorrido no Rio de Janeiro, a população de 1824-1825 que castigaram o Recôncavo, principal
pobre e negra permaneceu no centro, contrariando os fornecedor de alimentos para a Capital, e uma epidemia UMA VISÃO HISTÓRICA DA ÁREA DO PROJETO
projetos do poder público. que atingiu o gado em 1830 fizeram escassear e
encarecer a carne. Em 1833, o cenário é de fome e
Contexto histórico da Bahia na primeira metade carestia de gêneros. Em alguns lugares, como Salvador,
do século XIX foram tomadas medidas para conter a especulação
sob pena de miséria generalizada. A economia agrícola
Segundo dados levantados por João José Reis (1991), doméstica operada nos quintais das casas passa a ser de
o censo de 1808 calculou que viviam em Salvador 250 extrema necessidade.
mil pessoas: 63% eram livres e 37% escravos. A riqueza
A crise de gêneros ocasionou vários motins populares.
em Salvador estava concentrada nas mãos dos brancos
A crise inflacionária e o derrame de moedas falsas
proprietários, mas havia possibilidade de ascender
agravaram a crise de gêneros, levando o povo a
socialmente por meio do tráfico de escravos, já que o
se revoltar principalmente contra os comerciantes
grosso do comércio era controlado pelos portugueses,
ou através da carreira administrativa e militar. Qualquer
pessoa com um mínimo de condição possuía um
escravo, o que não representava necessariamente um
luxo, pois, apesar de garantir certo status, significava
Representação em 3D da
antes de tudo a sobrevivência de muitos cidadãos, que casa 21, rua 28 de Setembro,
tinham nos jornais pagos por seus escravos a única antiga rua do Tijolo, onde
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se observa no 2º subsolo a
fonte de renda. divisão interna de pequenos
cômodos, sugerindo um
cortiço.
5 O jornal constituía o pagamento diário ou semanal
dado pelo escravo de ganho a seu senhor, prestando
conta da venda de mercadorias ou do serviço por ele
desempenhado. Em geral era uma quantia fixa, e o 59
excedente podia ser embolsado pelo escravo.
Programa monumenta – IPhan