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edifícios, como o Palácio dos Governadores, a Casa   O espaço físico da Sé, assim como o de toda a cidade,
            da Moeda, o colégio médico-cirúrgico, o Senado da   era comprimido: ruas estreitas, casas amontoadas,
            Câmara, o solar do Ferrão, o solar do Berquó, o paço do   principalmente as térreas, com portas e janelas dando
            Saldanha, além da Igreja de São Pedro dos Clérigos, a   para as vias públicas – a maioria na cidade. As casas de
            sé Catedral, fazendo frente para o mar, a Santa Casa de   andares com varandas fechadas por rótulas, cobertas por
            Misericórdia, o Convento de São Francisco, a Igreja de   um telhado, faziam com que as vias públicas ficassem
            Nossa Senhora da Ajuda e a igreja dos antigos padres da   escuras e desagradáveis para quem passasse por elas
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            Companhia de Jesus (Nascimento, 1986) .          (Wied-Neuwied, 1940; Avé-Lallemant, 1980) . Supõe-
                                                             se que havia uma disputa acirrada pela moradia nas
            As mais importantes famílias da província viviam na
                                                             áreas centrais da cidade, principalmente da freguesia
            Sé até a primeira metade do século XIX, quando a
                                                             da Sé, talvez explicada pela dificuldade de transporte e
            freguesia perde sua característica elitista. Geralmente                                                             UMA VISÃO HISTÓRICA DA ÁREA DO PROJETO
                                                             necessidade de estar próximo dos locais de trabalho.
            esse  processo  é  descrito  como  uma  passagem  quase
            natural de uma freguesia elegante da classe alta para   Os sobrados, residências de famílias de alta renda,
            uma freguesia popular. Parece  que alarmados pelas   não eram  todos iguais. Segundo Nascimento (1986),
            epidemias da década de 1850, e em busca de melhores   poderiam ter de um a quatro andares. Nos divididos em
            ares, os ricos abandonaram o centro e foram viver em   vários fogos, já desde o térreo, existiam as lojas: habitações
            suas propriedades no Recôncavo, ou mudaram-se para   onde viviam pessoas mais pobres, geralmente negros,
            as novas e charmosas freguesias da  Vitória e de São   agregados dos proprietários. Na maioria das vezes, esses
            Pedro, passando a alugar seus imóveis a uma população
            menos abastada.                                   10   Era a impressão registrada por diversos viajantes
                                                              que visitaram as ruas de Salvador. Ver WIED-NEUWIED,
                                                              Maximiliano, príncipe de. Viagem ao Brasil. São Paulo:
            A princípio, era oportuno para a elite alugar alguns
                                                              Companhia Editora Nacional, 1940; e AVÉ-LALLEMANT,
            andares de seus sobrados a funcionários públicos. Estes   Robert. Viagem pelas províncias da Bahia, Pernambuco,
            também viam lucros em sublocá-los a pobres livres,   Alagoas e Sergipe. São Paulo: Edusp, 1980.
            libertos e escravos, e assim, cada vez mais, essa população
            “perigosa” se apropriava de um espaço outrora reservado
            à elite. O resultado foi a desvalorização dos imóveis e da                                        Revolta da Vacina,
                                                                                                              Rio de Janeiro
            freguesia, o domínio das classes populares sobre aquela                                           (caricatura de
            região da cidade e uma preocupação por parte dos                                                  Leônidas Freire,
            poderes públicos em relação a esses incômodos vizinhos.                                           publicada na
                                                                                                              revista O Malho,
                                                                                                              Rio de Janeiro,
             9   Sobre demografia e perfil social da Sé e das demais                                          1904).
             freguesias de Salvador, ver principalmente NASCIMENTO,
             Ana Amélia Vieira. As dez freguesias da cidade de Salvador:
             aspectos sociais e urbanos do século XIX. Salvador: Fundação                                                    63
             Cultural do Estado da Bahia, 1986.





            Programa monumenta – IPhan
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