Page 65 - ARqUEOlOGiA NO PElOURiNhO
P. 65
status da sociedade soteropolitana. O número de libertos carregar cadeiras, trabalhar em alvarengas, os libertos
crescia. A Sé não era uma das freguesias com maior pagavam impostos suplementares à municipalidade.
agrupamento de negros ou de escravos, ficava atrás Segundo dados de Nascimento (1986), na Sé, em
das freguesias do Pilar, Passo e São Pedro. Isso pode se 1847, havia 356 pessoas libertas, perfazendo 14,2%
explicar pelo fato de haver nas freguesias centrais, desde da totalidade dessa população na cidade. Esses eram,
o início do século – período de intensa ação rebelde na sua maioria, os moradores das lojas, muitas vezes
escrava –, constante fiscalização e repressão às “reuniões compondo grupos de solteiros, sem família, unidos pela
de pretos”, proibidas pelas posturas municipais, o que etnia comum, se africanos, ou talvez pela profissão. Tais
tirava dessa população a “liberdade” de divertimento e aglomerados deviam ser o fermento social da cidade, de
manifestação religiosa nessas freguesias. onde surgiam as lutas por melhores condições de vida,
as inconformidades, as revoltas.
A preocupação com os libertos era grande e
expressava-se em leis que visavam principalmente A Sé concentrava o maior número de pessoas que viviam
Escravos impedir a indigência e “vagabundagem” dessas pessoas sós ou com escravos. As que moravam com um escravo,
de ganho: consideradas perigosas. O liberto não tinha direito, provavelmente de ganho, não podem ser confundidas
carregadores
(Sampaio, 2005, por exemplo, de alugar casas, a menos que obtivesse com a população abastada que outrora ocupou essa
p. 128). uma autorização especial do juiz de paz. Para mercar, freguesia. Em geral tratava-se de pessoa humilde,
possivelmente liberta, e o ganho do trabalho desse
escravo talvez fosse sua única fonte de renda. Os que
viviam sós podiam ser os próprios escravos de ganho.
Analisando as profissões declaradas pelos moradores da
Sé no censo de 1855, Nascimento (1986) verificou que
eram em sua maioria ganhadores, alfaiates, barbeiros,
ferreiros, sapateiros, corretores, cortadores de carne,
cozinheiros, advogados, lojistas, marceneiros, funileiros,
ourives, pintores, empregados públicos, padres,
caixeiros e, entre as mulheres, costureiras, ganhadeiras,
negociantes e quitandeiras, ocupações próprias de
escravos e libertos.
Ao lado de pessoas solitárias, havia famílias extensas que
dividiam o mesmo espaço. A pesquisa de Nascimento
(1986) encontrou um número médio de 8,6 moradores
por fogo, compondo o cotidiano daquela freguesia. Em
66 1888, por exemplo, o sobrado 51 na rua Maciel de Baixo
abrigava 50 pessoas, que não conseguiam, segundo
ArqueologiA no Pelourinho