Page 69 - ARqUEOlOGiA NO PElOURiNhO
P. 69

ser responsabilidade do governo, depois mudando   tipos de lixo: o de descarte doméstico, que era o grande
                           novamente para as mãos de particulares, por meio   problema, e o representado principalmente pelos restos
                           de contratos mais severos e de maior fiscalização em   de materiais construtivos, vendido para nivelar terrenos,
                           sua execução. Mais tarde, a implantação de fornos de   que, inclusive, foi utilizado na obra do rio das  Tripas,
                           incineração é a solução encontrada para o problema   primeiro para  a ocupação de suas margens e depois
                                                                                                     16
                           do lixo.                                        para possibilitar sua canalização .
                           O rio das Tripas começa a ser canalizado em 1851, pelo
                           governo de Francisco Gonçalves Martins, logo após a
                           epidemia de febre amarela. Esse rio formava um charco   Conclusão
                           de águas podres no fundo do Mosteiro de São Bento   O fato de não ter havido uma política agressiva de
                           e na Baixa dos Sapateiros, e da sua canalização surge   demolição  dos  cortiços  do  centro  de  Salvador,  como
                           a rua da Vala, que se tornará a avenida J. J. Seabra no   ocorreu na capital carioca na segunda metade do século
                           século XX. É importante destacar que existiam dois   XIX, não significa que esse tipo de habitação gozou de
                                                                           aceitação passiva pela sociedade baiana. De maneira
                                                                           mais sutil e discreta, houve um esforço da administração
                                                                           e classe médica local para o extermínio de tais habitações,
                                                                           consideradas focos de doenças e degradantes para a vida
                                                                           humana, pela imoralidade e devassidão em que viviam
                                                                           seus habitantes. Teodoro Sampaio, mais uma vez, nos dá
                                                                           sua impressão sobre o assunto:

                                                                               Percorrei, à certa hora da noite, esses lugares
            Caricatura de
          Ângelo Agostini                                                      escuros da citada freguesia, e vereis, entaipadas
       sobre a mortandade                                                      entre quatro paredes escuras, úmidas, jazendo
            decorrente da                                                      no chão atijolado ou revestido de cimento, sobre
         epidemia de febre
         amarela em 1876                                                       esteiras, ou pobres leitos impuros, os membros de
       (publicada na Revista                                                   uma grei numerosa, que o parentesco ajuntou, ou
         Illustrada, de 4 de
         março de 1876, e                                                      a miséria reuniu, e aí verificareis como se envenena
          reproduzida em                                                       uma população inteira, num ambiente infecto,
         Nosso Século. São                                                     cujo ar não se renova jamais pela única abertura
       Paulo: Abril Cultural,
         1980, vol.1, p. 30).                                                  que se fecha por necessidade forçada de noturna
                                                                               segurança. Pela manhã, quando tais antros se

     70                                                                     16   APEB, seção colonial, presidência da província, obras
                                                                            públicas, 1825-1851, maço n. 4882.





                                                                                              ArqueologiA no Pelourinho
   64   65   66   67   68   69   70   71   72   73   74