Page 137 - Reino Silencioso_O Mistério dos Corais Desaparecidos
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Um leve zumbido preenchia o ambiente, como se as próprias pedras vibras-
    sem em harmonia. Era como escutar uma língua esquecida, que apenas os atentos
    conseguiam compreender.





           Lívia estendeu a mão, sem tocar, apenas sentindo. O calor vindo do círculo
    coralino era sutil, como um pulso lento e constante — não de temperatura, mas de
    presença. — “Ele está nos ouvindo…” sussurrou, mais para si do que para os outros.


           Dona Yara, com flutuabilidade tranquila, fechou os olhos e começou a entoar
    baixinho uma melodia antiga, que ecoava suave através do regulador. Helena reco-
    nheceu: era uma cantiga de proteção, passada por gerações entre pescadores que
    tratavam o mar como irmão.


           Os peixes não fugiam. Ao contrário, giravam em torno do grupo como numa
    coreografia silenciosa. Até as correntes pareciam mais suaves, como se o recife esti-
    vesse acolhendo a presença daqueles que haviam feito a promessa.


           Theo,  impressionado,  murmurou  pelo  rádio:  —  “Nunca  vi  algo  assim.  É
    como se estivéssemos dentro de um organismo vivo… e ele soubesse quem somos.”


           Takashi, com os olhos colados no sensor de espectro, balançou a cabeça com
    espanto: — “As leituras mostram uma vibração harmônica, muito além do normal. É

    como se o recife estivesse se auto-organizando… ou se comunicando.”

           Helena então apontou para o centro do círculo, onde uma pequena abertura

    entre os corais formava algo parecido com um símbolo. Era a mesma forma que apa-
    recera, vagamente, na cápsula deixada dias antes: uma espiral envolta por ondas.
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