Page 117 - ASAS PARA O BRASIL
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Quando viajamos à França e falamos que moramos no Brasil, sempre nos
                  olham  com  desconfiança  e  sempre  surgem  implicitamente  as  mesmas
                  perguntas nos nossos interlocutores: “Será que ele é um fraudador fiscal?
                  Será que ele tem problemas com a justiça francesa ou dívidas de impostos
                  na França? Será que ele está fugindo de uma quadrilha perigosa?”.


                  Ou então somos julgados: “ele não contribui mais ao desenvolvimento do
                  seu país, ele virou as costas para a França” e até comentários xenófobos:
                  “sua mulher é tão diferente, com certeza é uma migrante”.

                  Em vez de fazer-nos sentir culpados, seria melhor reforçar os laços entre os
                  expatriados e a França.


                   Esses preconceitos frequentes me deixam triste.

                  Onde se encontra a diversidade e a tolerância tão propagadas pela França
                  na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789?


                  Aqui vai uma dica: os impostos são altos no Brasil, os casais idosos podem
                  ter abatimentos fiscais consideráveis.

                  Os  brasileiros  geralmente  respeitam  a  minha  idade,  mais  do  que  os
                  franceses metropolitanos, mas eles sempre me veem como um estrangeiro,
                  um “gringo” e minha esposa é vista como se não fosse ninguém porque vive

                  com um estrangeiro.

                        Muitas  brasileiras  se  casam  com  gringos  por  um  motivo  alimentar.
                  Talvez seja a globalização, mas é desagradável.


                   Às vezes, gostaria de pedir um passaporte de apátrida da ONU!

                  A  uns  cem  quilômetros  de  onde  morávamos  há  um  vilarejo  chamado
                  Guaramiranga,  a  900  metros  de  altitude,  aonde  a  temperatura  noturna
                  chega a 14 graus e a diurna a 25 graus.

                   As pessoas abastadas de Fortaleza escapam o fim de semana para cuidar
                  da saúde neste pequeno paraíso climático tão revigorante.


                   A  fauna  é  diferente  e  as  cachoeiras  escorrem,  como  um  convite  para  a
                  meditação.

                  Um  grande  mosteiro  jesuíta  erguido  pelos  portugueses  serve  hoje  para

                  retiros espirituais.
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