Page 116 - ASAS PARA O BRASIL
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Recebemos um documento perfeitamente crível com belas cores e carimbo
                  de autenticação.

                     Sabíamos desde o começo que se tratava de estelionato, mas continuamos
                  com certo prazer a deixá-lo acreditar que iríamos cair no golpe dele. Ele nos

                  telefonou todos os dias até o dia em que ameaçamos denunciá-lo.

                  Mafiosos  italianos  nos  “convidavam”  a  ir  até  a  Europa  para  receber
                  dinheiro vivo.


                  Até que um dia, em maio de 2010, uma franco-tunisiana comprou o nosso
                  imóvel com desconto.

                  Estávamos cansados de esperar possíveis compradores.

                  Ela chorou muito para que vendêssemos para ela. Pretendia ter esperado
                  durante dois anos para que baixássemos o preço da venda.


                  Quando um comprador que vinha ver a casa pela primeira vez chegou na
                  propriedade, ela se trancou num quarto e começou a fazer encantações de
                  joelhos e espalhando os seus objetos, amuletos de diversas religiões.


                  Ela se achava um “xamã índio”.

                          Ela pensou ter achado a casa dos seus sonhos, seu paraíso, seu nirvana
                  e pretendia ter sentido fortes ondas positivas neste terreno. Pior ainda: a
                  criança tão esperada devia nascer neste lugar supostamente místico.

                  Deixamos  uma  belíssima  propriedade  perfeitamente  conservada,  onde

                  estão plantadas mais de duzentas árvores e espécies raras e magníficas de
                  plantas; enfim, um verdadeiro minijardim Botânico!

                  É inútil esconder que essa venda nos deixou aflitos.


                  Em 2014, a xamã colocou a propriedade à venda. A região tinha se tornado
                  um lugar de desolação e provavelmente, a chácara também.

                  Após  17  anos  no  mato,  a  separação  foi  dolorosa,  mas  quantas  foram  as
                  experiências e as pessoas enriquecedoras que tivemos?

                  Hoje em dia, a Eliane e eu falamos cada vez menos dos momentos felizes
                  que passamos naquele lugar cheio de emoções.


                  Durante os muitos anos que passamos no Ceará, viajamos muito para o
                  exterior e visitamos muitas vezes a família na França e em Mossoró e Natal,
                  onde a Eliane tem parentes.
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