Page 36 - Nos_os_bichos
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cadáveres. A senhora, coitadinha, era já um pouco velhinha e ficou com o coração muito acelerado. Foi um
                  milagre não lhe ter dado nada!
                        Neste aparato todo, a D. Laurinda chamou:
                          - António! Vem cá, rápido!

                        O homem, muito assustado, num ápice, foi consolar a mulher, tentando acalmá-la um pouco.
                        António ficou um pouco desesperado e foi logo buscar um saco onde colocou as galinhas mortas. De
                  seguida, D. Laurinda e António foram buscar um pouco da rede que tinha sobrado e colocaram-na como teto,
                  pois a raposa tinha entrado por cima.

                         O dia foi passando e a família da Rosinha ainda não tinha ingerido proteínas, então, mais uma vez, a
                  mãe raposa foi tentar a sua sorte. Dessa vez, queria patos, pois poderiam ser mais leves, pensava ela.
                          Rosinha foi de novo à mesma quinta, mas deparou-se com o teto de rede, por onde não daria de modo
                  algum para entrar. Então, com as suas garras bem afiadas, escavou na terra e conseguiu entrar na fazenda,

                  tentando atacar os patos.
                         Desta vez, ela foi um pouco mais esperta, mas não totalmente. À medida que ia caçando, transportava-
                  os para a parte de fora da quinta. Se os conseguiu levar todos? Não, não conseguiu! Um cão que se aproximou
                  com o cheiro afugentou a esfomeada raposa. Dessa vez, contudo, chegou a casa e disse alegremente para os

                  filhos:
                                                     - Para a mesa!
                                                     - Conseguiste, mãe?- perguntou um dos filhos muito contente.
                                                     - Boa mãe, boa!- disse o outro.

                                               Os três, muito contentes, degustaram o jantar e foram dormir.
                                               No  dia  seguinte,  a  pobre  coitada  D.  Laurinda  deparou-se  com  mais
                                         animais mortos, dessa vez patos, e disse em voz alta:
                                                     - Ai, não acredito! Os meus patos estavam tão gordinhos, logo

                                         não os matei antes!
                        Nisto, apareceu o António com as mãos na cabeça e disse:
                          - O que fazemos agora, Laurinda? Ai os nossos ricos patos! Olha, Laurinda, não quero mais animais,
                  só me dão prejuízo! Vou colocar aqui um cão e vamos ver se a raposa cá volta!

                        Os dois enterraram os restos mortais dos patos, colocaram o animal na sua casota e foram para casa.
                        A noite aproximava-se e lá foi Rosinha em busca de mais umas galinhas ou patos. Chegou à quinta.
                  Reparou que, por cima, não conseguiria entrar, por baixo já não dava também. Não sabia que fazer mais. Estava
                  ela muito desprevenida a andar em volta da quinta, à procura de um novo local para poder entrar, quando se

                  deparou com um cão com o dobro do seu tamanho que lhe sussurrou:
                          - Aqui não voltas mais, caso contrário teremos sérios problemas. Ouviste?
                          - Sim, sim! – respondeu Rosinha, num tom muito assustado, e foi-se embora.
                        A raposa, correndo o mais que pôde, chegou a sua casa e relatou aos seus filhos o que acontecera.







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