Page 34 - Nos_os_bichos
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Num jardim calmo e sereno
Há muitos, muitos anos atrás, num jardim calmo e sereno onde tudo parecia ser mágico, viviam com as
suas famílias vários animais de diferentes espécies. Por vezes, estas famílias partilhavam a mesma morada
com outras famílias.
Neste jardim, todos os animais se davam bem e também se ajudavam uns aos outros, sempre sem se
acharem superiores, pois, para eles, todos eram iguais, mesmo sendo alguns mais fortes e maiores.
Numa das árvores daquele jardim, viviam vários animais, cada um na sua casa.
Numa das casas, viviam um passarinho e os seus filhos. Todos lhe chamavam Amigo, por ser essa a
sua melhor virtude. Amigo lembrava todos os dias aos seus filhos a importância de se respeitarem os outros e
ensinava-lhes regras práticas para saberem viver em comunidade. Por ser muito responsável e respeitador, ele
era o representante nomeado por todos os animais para dar as boas-vindas a qualquer família que viesse
instalar-se naquela quinta.
Amigo sabia que uma das casas que ficava ao lado da sua estava vazia e que, a qualquer momento,
podia instalar-se ali uma família. Claro que ele estava a postos para, a qualquer momento, ter de receber uma
nova família que chegasse àquele jardim e dizer-lhe os direitos, deveres e leis que teria de respeitar.
Isso aconteceu precisamente naquele final de tarde. Ouviu o burburinho, foi espreitar e viu uma família
de morcegos que se preparava para se instalar na casa do lado. Rapidamente, Amigo, com o seu ar simpático,
foi ter com eles para os receber.
-Bom dia! Vocês são os novos moradores desta casa?- perguntou ela.
-Não está a ver que sim?- respondeu o morcego, com ar rude.
O pássaro ficou estupefacto. Nunca tinha sido tratado assim. Num tom sério, mas agradável, perguntou:
-Há algum problema, senhor? Incomodei-o de alguma forma?
-Se vem aqui só para dizer só isso, pode ir-se embora. – respondeu o morcego, começando a fechar a
porta.
-Não, não vim aqui só para dizer isto. Vim aqui para informar que neste jardim existem direitos, deveres,
leis e que todos temos de nos respeitar uns aos outros. Temos de nos ajudar e de nos proteger. – informou a
pequena ave, num tom calmo, mas determinado. E acrescentou – E se não pretendem fazer isso, ponham os
trapinhos na mala e voltem para o lugar de onde vieram. Caso contrário, fiquem e sejam bem-vindos. – disse.
Depois, despediu-se e retomou o caminho de casa, que era no mesmo ramo, lado a lado.
Ainda ouviu o morcego, que dizia, de forma grosseira:
-Pois, mas quer saber uma coisa? Eu e a minha família somos superiores a vocês, temos outra classe e
não precisamos dessas estúpidas leis, deveres e direitos…e muito menos da vossa ajuda.
Os dias foram passando e aparentemente os morcegos tinham decidido ficar. O ambiente à sua volta
era pouco agradável, pois eles nada faziam para mudar a sua atitude: não cumprimentavam ninguém, faziam
barulhos estranhos fora de horas… Em suma, continuaram a agir como se fossem superiores, sem nunca
ajudarem ninguém e sem aceitarem ajuda.
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