Page 42 - Nos_os_bichos
P. 42

O crocodilo admirou a coragem do macaco. Não estava acostumado
                                             a que tentassem comunicar consigo e, por outro lado, habituara-se, desde
                                             cedo, a ser violento e possessivo. Estava na hora de mudar!
                                                   Foi assim que o crocodilo seguiu os conselhos do seu novo amigo.

                                             Pouco depois, todos os animais da selva se tornaram seus amigos também.
                                                                                              Inês Fonseca

                        Do ódio à amizade


                        Era uma vez uma gata e um cão que moravam na mesma casa e que estavam sempre em guerra e a

                  discutir um com o outro, tudo por causa da falta de paciência e do mau feitio do cão.
                        Numa tarde de outono, enquanto perseguia uma borboleta, a gata tropeçou no cão, que dormia a sua
                  sesta junto a uma laranjeira do jardim, acordando-o sem querer.
                        Estremunhado, o cão levantou-se, olhou em redor, e num crescendo de raiva, disse num tom feroz:

                        - Acordaste-me da minha sesta?! Como ousas? Sai daqui, nunca mais me toques e não ouses voltar a
                  falar comigo!
                        A gata, triste, respondeu-lhe:
                         - Foi sem querer. Desculpa-me.

                        Ele fulminou-a com os olhos e com um grunhido assustador, repetiu, num tom violento:
                        - Nunca mais me toques e nunca mais me fales. Ouviste?
                        Ela, aterrorizada e confusa, disse:
                        -Tu estás sempre maldisposto e falas sempre mal para mim. Porquê? Responde-me.

                        Ele nada disse, mantendo o seu ar carrancudo e agressivo. Então, ela, farta de sofrer e movida pelo
                  cansaço, respondeu-lhe:
                        - Está bem, eu vou deixar de te falar e de me aproximar de ti, já o devia ter feito há muito tempo, pois tu
                  não mereces a minha amizade nem a minha companhia.

                        E afastou-se, com ar determinado. O cão ficou por ali, com ar de quem não se importava, mas, ao mesmo
                  tempo, com uma ar pensativo e até um bocadinho magoado com o que a gata lhe tinha dito, mas não disse
                  nada.
                        O tempo foi passando e, por vezes, o cão e a gata cruzavam-se, pois viviam na mesma casa, embora

                  sempre sem se falarem. Quem os conhecia sabia que a situação era insustentável e que algum dia eles teriam
                  que fazer as pazes, até porque, lá no íntimo, eles gostavam muito um do outro, apesar do orgulho do cão e das
                  diferenças que havia entre eles.
                          À medida que o tempo passava, já sem conseguir aguentar as saudades daqueles momentos que

                  passava com a gata, o cão começou a aperceber-se de que não tivera quaisquer razões para a tratar assim e
                  que o tinha feito simplesmente para a provocar.
                        A partir daí, o cão começou a tentar reaproximar-se da gata, mas ela estava muito magoada e receava
                  dar-lhe uma segunda oportunidade, pelo que foi mantendo as distâncias.



                                                              42
   37   38   39   40   41   42   43   44   45   46   47