Page 35 - A CAPITAL FEDERAL
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Dolores – De modo que, neste momento, a sua pobre senhora julga-o em Petrópolis.
                         Rodrigues (Confidencialmente, muito risonho.) – Saí hoje de casa com a minha bela fantasia dentro
                         de uma mala de mão, e fingi que ia tomar a barca das quatro horas. Tomei mas foi um quarto do
                         hotel, onde o austero negociante jantou e onde à noite se transformou no carro fechado voei a esta
                         deliciosa mansão de encantos e prazeres.Tenho por mim toda a noite e parte do dia de amanhã, pois
                         só tenciono voltar à tardinha. Ah! Não imaginam vocês com que saudade estou da família, e com que
                         satisfação abraçarei a esposa e os filhos quando vier de Petrópolis!
                  Mercedes – Você é na realidade um pai de família modelo!
                  Dolores – Um exemplo de todas as virtudes!
                  Blanchette – Esse vestuário de Arlequim não lhe fica bem! Você devia vestir-se de Catão!
                  Rodrigues – Trocem à vontade, mas creiam que não há no Rio de Janeiro um chefe de
                         família mais completo do que eu. (Afastando-se.) Em minha casa não falta nada. (Afasta-se.)
                  Mercedes – Nada, absolutamente nada, a não ser o marido.
                  Dolores – É um grande tipo.
                  Blanchette – E a graça é que a senhora paga-lhe na mesma moeda!
                  Mercedes – É mais escandalosa que qualquer de nós.
                  Dolores – Não quero ser má língua, mas há dias encontrei-a num bonde da Vila Isabel
                         muito agarradinha ao Lima Gama!
                  Blanchette – Aqueles bondes da Vila Isabel são muito comprometedores.
                  Rodrigues  (Voltando.) – Que estão vocês aí a cochichar?
                  Mercedes – Falávamos da vida alheia.
                  Blanchette – Dolores contava que há dias encontrou num bonde da Vila Isabel uma
                         senhora casada que mora em Botafogo.
                  Rodrigues – Isso não tira! Talvez fosse ao Jardim Zoológico.
                  Dolores – Talvez; mas o leão ia ao lado dela no bonde...
                  Rodrigues – Há, efetivamente, senhoras casadas que se esquecem do decoro que devem a
                         si e à sociedade!
                  As três (Com convicção.) – Isso há...
                  Rodrigues – Por esse lado posso levantar as mãos para o céu! Tenho uma esposa virtuosa!
                  Mercedes – Deus lha conserve tal qual tem sido até hoje.
                  Rodrigues – Amém.
                  Blanchette – E Lola que não aparece?
                  Dolores – Está se vestindo: não tarda.
                  Um Convidado – Oh! Que bonito par vem entrando!
                  Todos – É verdade!
                  O Convidado – Façamos alas para recebê-lo!
                  Rodrigues – Propomos que o recebamos com um rataplan!
                  Todos – Apoiada! Um rataplan... (Formam-se duas alas.)


                                                        Coro
                                              Rataplan! Rataplan! Rataplan!
                                              Oh! que elegância! que lindo par!...
                                              Todos os outros vem  ofuscar!


                                                       -   Cena II –

                                              Os mesmos, Figueiredo e Benvinda
                                                         (Entra Figueiredo, vestido de Radamés, trazendo pela mão
                                              Benvinda, vestida de Aída.)

                                                        Figueiredo
                                                       -   I –
                                              Eis Aída,
                                              Conduzida
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