Page 37 - A CAPITAL FEDERAL
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uma série de circunstâncias que...que...
                  Figueiredo – Deixe-se disso! Não há nada mais feio que a hipocrisia! Naquela tarde em
                         que o encontrei no largo da Carioca, a mulata mostrou-me seu cartão de visitas...
                  Rodrigues – O meu?... Ah! Sim, dei-lhe o meu cartão... para...
                  Figueiredo – Para quê?
                  Rodrigues – Para...
                  Figueiredo – Olhe, cá entre nós que ninguém nos ouve: quer você tomar conta dela?
                  Rodrigues – Quê! Pois já se aborreceu?
                  Figueiredo – Todo o meu prazer é lançá-las, lançá-las, e nada mais. Você viu a Mimi
                         Bilontra?
                  Rodrigues – Não.
                  Figueiredo – Mas sabe o que é lançar uma mulher?
                  Rodrigues – Nesses assuntos sou hóspede... você sabe... sempre fui um homem de
                         família... mas quer me parecer que lançar uma mulher é como quem diz atirá-la na
                         vida, iniciá-la neste meio...
                  Figueiredo – Ah! Qui Qui! Infelizmente não creio que desta se possa fazer alguma coisa
                         mais que uma boa companheira. É uma mulher que lhe convinha.
                  Rodrigues – Mas eu não preciso de companheira! Sou casado, e, graças a Deus, a minha
                         santa esposa...
                  Figueiredo  ( Atalhando.) – E o cartão?
                  Rodrigues –  Que cartão? Ah! Sim, o cartão do Largo da Carioca... Mas eu não me
                         comprometi a coisa nenhuma!
                  Figueiredo – Bom; então não temos nada feito... mas veja lá! – se quer...
                  Rodrigues –  Querer, queria... mas não com caráter definitivo!
                  Figueiredo – Ora vá pentear macacos!

                         (Às últimas deixas, Eusébio tem entrado, vestido  com  uma dessas roupas que vulgarmente se
                  chamam de princês. Eusébio aperta a mão aos convidados um por um. Todos se interrogam com os olhos
                  admirados de tão estranho convidado.)

                                                       -   Cena III –
                                                       Os mesmos, Eusébio

                  Eusébio (Depois de apertar a mão a muitos dos circunstantes.) – Tá tudo oriando uns pros
                         outro, admirado de me vê aqui! Eu fui convidado pela madama dona da casa!
                  Benvinda (À parte.) – Sinhô Eusébio! ...
                  Figueiredo ( A quem Eusébio aperta a mão, à parte.) – Oh! Diabo! É o patrão da
                         Benvinda!...
                  Blanchette – Donde saiu esta figura?
                  Dolores – É um homem da roça!
                  Blanchette – Não será um doido?
                  Eusébio ( Indo apertar por último a mão de Benvinda, reconhecendo-) – Benvinda!
                  Benvinda – Ó revoá!
                  Figueiredo (À parte.) – E ela a dar-lhe!...
                  Eusébio – Tu também tá de fantasia, mulata! O mundo tá perdido!...
                  Benvinda – Eu vim com seu Figueiredo... mas vancê é que me admira!
                  Eusébio – Eu vim falá ca madama pro mode seu Gouveia... e ela me convidou pra festa... e
                         eu tive que alugá esta vestimenta, mas vim de tilbo porque hoje é sabo de aleluia e eu não quero
                         embrulho comigo!
                  Figueiredo (À parte.) – Oh! Bom! Foi o seu professor de português!
                  Benvinda – Se sinhá soubesse...
                  Eusébio – Cala a boca! Nem pensá nisso é bão! Mas onde tá o tá seu Figueiredo? Eu
                         sempre quero olá pra cara dele!
                   Benvinda – É aquele.
                  Eusébio ( Indo a Figueiredo.) – Pois foi o sinhô que me desencaminhou a mulata? O sinhô,
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