Page 46 - A CAPITAL FEDERAL
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Num  dramalhão!
                                              Mas às rédeas e ao chicote
                                                     Jungido estou!
                                              Sou cocheiro de cocote! (1)
                                                     Nada mais sou!
                                              Cumprir o nosso destino
                                              Nem eu quis nem você quis!
                                              Fui ator desde menino
                                              E você foi sempre atriz!

                                                       -   II –
                                              Quando eu era mais mocinho
                                                     (Posso afiançar!)
                                              Fiz furor num teatrinho
                                                     Particular!
                                              Talvez outro João Caetano
                                                     Se achasse em mim.
                                              Mas o fado desumano
                                                     Não quis assim!
                                              Cumprir o nosso destino, etc...

                  Lola – Mas por que não acompanhaste o fazendeiro? Era mais seguro!
                  Lourenço – Pois eu lá me atrevia a andar por essas ruas de barbas postiças! Nada, que não
                         queria dar com os ossos no xadrez!
                  Lola –  Tens agora que esperar aqui a pé firme!
                  Lourenço – Estou arrependido de ter perdoado os juros. (Batem à porta.)
                  Lola – Quem será?
                  Lourenço (Depois de espreitar.)  – É o filho-família.
                  Lola – Ah! O tal Duquinha? Tomaste as necessárias informações? Que me dizes desse
                         petiz?
                  Lourenço (Abanando a cabeça com ares de competência.) – Digo que no seu gênero não
                         deixa de ser aproveitável... O pai é muito severo,  mas a mãe, que é rica, satisfaz  todos  os  seus
                         caprichos... Não digo que você possa dali mundos e fundos, mas é fácil obrigá-lo a contrair dívidas,
                         se for preciso, para dar alguns presentes, e ouro é o que ouro vale.
                  Lola – Manda-o entrar.
                  Lourenço – Não se demore muito, porque o fazendeiro foi a todo o vapor e não tarda por
                         aí.
                  Lola – Temos tempo. A Rua de S. Bento é longe. (Sai. Lourenço tira o sobretudo, a que
                         junta as barbas, os óculos e o chapéu, e vai abrir a porta a Duquinha.)


                                                       -   Cena IV –
                                                       Duquinha, Lourenço

                                       (Duquinha tem dezoito anos e é muito tímido.)

                  Duquinha – A senhora Dona Lola está em casa?
                  Lourenço (Muito respeitoso.) – Sim, meu senhor... e pede a V. Exa. Que tenha o obséquio
                         de esperar alguns instantes.
                  Duquinha – Muito obrigado. (À parte.) É o cocheiro... não sei se deva...
                  Lourenço –  Como diz V. Exa.?
                  Duquinha –  Se não fosse ofendê-lo, pedia-lhe que aceitasse... (Tira a carteira.)
                  Lourenço –  Oh! Não!... Perdoe V. Exa... não é orgulho; mas que diria a patroa se soubesse
                         que eu...
                  Duquinha – Ah! Nesse caso... (Guarda a carteira.)
                  Lourenço (Que ia sair, voltando.) – Se bem que eu estou certo que V. Exa. Não diria nada
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