Page 119 - C:\Users\Leal Promoções\Desktop\books\robertjoin@gmail.com\thzb\mzoq
P. 119
si mesmo de um canto, com o necessário distanciamento, para retornar às dimensões
humanas. Lembro de meu mal-estar na primeira vez em que estive na Bahia, ao constatar o
número de obras públicas com o nome de Antônio Carlos Magalhães. Naquele tempo,
“Painho” era vivíssimo. Quem diria que o governo do filho de dona Lindu terminaria com um
campo gigante de petróleo batizado com o nome de Lula.
Nessa mesma linha, colocar-se como um pai e como um chefe de família quando está no
lugar de presidente soa mal, muito mal. Lula é pai do bem-sucedido Lulinha e de seus outros
filhos. Assim como cada um de nós tem seu próprio pai. E um já é suficiente. Um presidente
republicano, eleito democraticamente, é alçado ao poder pelo voto, por um tempo
determinado pela Constituição. É colocado no poder não por filhos, mas por cidadãos
autônomos. E é julgado por seus atos e pela qualidade de sua administração — e não pelo
afeto. É uma relação de igual para igual, entre adultos responsáveis e emancipados.
Essa conversa de pai e filho infantiliza a população — especialmente os mais pobres, que
supostamente precisam ser “cuidados”. Como se um governo que inclua seus anseios e
necessidades fosse a concessão de um governante bondoso — e não um direito básico de
cidadão, legitimado pelo voto e assegurado pelo processo democrático. Essa conversa de pai
e filho também ecoa o que há de pior no Brasil patriarcal — ainda que o pai, desta vez, seja
um “homem do povo”. Considero esse discurso uma irresponsabilidade. Ainda bem que não
colou quando tentaram transformar Dilma em nossa mãe durante a campanha eleitoral. Era
só o que nos faltava, nessa altura de uma vida democrática tão duramente conquistada, em
parte pela geração da própria Dilma.
Mas a maior fraqueza do governo Lula, além da saúde, foi a educação. Ao contrário do que
Lula diz, melhorou muito menos do que deveria. Terminar o segundo mandato com um
investimento em torno de 5% do PIB não dá a nenhum presidente a possibilidade de afirmar
que a educação foi prioridade em seu governo. Não foi — e não foi por nenhum ângulo que
se olhe. É verdade que ocorreram alguns avanços, como a ampliação do acesso ao ensino
superior. Mas é pouco, muito pouco, diante da catástrofe educacional do país. A educação
tem de ser uma causa como foi — e pelo discurso de Dilma Rousseff na posse continuará
sendo — a erradicação da miséria. Causa do governo, causa de todos.
Não me parece que exista essa compreensão. Nem com Lula, nem com Dilma — ainda que
no discurso de posse a presidenta tenha sinalizado a educação, a saúde e a segurança como
prioridades. Assim como a educação também não foi prioridade no governo de seus
antecessores. E isso explica nossa situação atual. Como um país pretende ser grande com
metade dos jovens de 15 anos que estão na escola — porque 15% já não estão — com
dificuldades para interpretar textos e um problema maior ainda para fazer contas? E com
43% dos empregados no mercado de trabalho sem diploma do ensino médio? Ou com os