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si  mesmo  de  um  canto,  com  o  necessário  distanciamento,  para  retornar  às  dimensões
        humanas. Lembro de meu mal-estar na primeira vez em que estive na Bahia, ao constatar o

        número  de  obras  públicas  com  o  nome  de  Antônio  Carlos  Magalhães.  Naquele  tempo,
        “Painho” era vivíssimo. Quem diria que o governo do filho de dona Lindu terminaria com um
        campo gigante de petróleo batizado com o nome de Lula.

          Nessa mesma linha, colocar-se como um pai e como um chefe de família quando está no
        lugar de presidente soa mal, muito mal. Lula é pai do bem-sucedido Lulinha e de seus outros

        filhos. Assim como cada um de nós tem seu próprio pai. E um já é suficiente. Um presidente
        republicano,  eleito  democraticamente,  é  alçado  ao  poder  pelo  voto,  por  um  tempo
        determinado  pela  Constituição.  É  colocado  no  poder  não  por  filhos,  mas  por  cidadãos

        autônomos. E é julgado por seus atos e pela qualidade de sua administração — e não pelo
        afeto. É uma relação de igual para igual, entre adultos responsáveis e emancipados.

          Essa conversa de pai e filho infantiliza a população — especialmente os mais pobres, que
        supostamente precisam ser “cuidados”. Como se um governo que inclua seus anseios e
        necessidades fosse a concessão de um governante bondoso — e não um direito básico de

        cidadão, legitimado pelo voto e assegurado pelo processo democrático. Essa conversa de pai
        e filho também ecoa o que há de pior no Brasil patriarcal — ainda que o pai, desta vez, seja

        um “homem do povo”. Considero esse discurso uma irresponsabilidade. Ainda bem que não
        colou quando tentaram transformar Dilma em nossa mãe durante a campanha eleitoral. Era
        só o que nos faltava, nessa altura de uma vida democrática tão duramente conquistada, em

        parte pela geração da própria Dilma.
          Mas a maior fraqueza do governo Lula, além da saúde, foi a educação. Ao contrário do que

        Lula diz, melhorou muito menos do que deveria. Terminar o segundo mandato com um
        investimento em torno de 5% do PIB não dá a nenhum presidente a possibilidade de afirmar
        que a educação foi prioridade em seu governo. Não foi — e não foi por nenhum ângulo que

        se olhe. É verdade que ocorreram alguns avanços, como a ampliação do acesso ao ensino
        superior. Mas é pouco, muito pouco, diante da catástrofe educacional do país. A educação
        tem de ser uma causa como foi — e pelo discurso de Dilma Rousseff na posse continuará

        sendo — a erradicação da miséria. Causa do governo, causa de todos.
          Não me parece que exista essa compreensão. Nem com Lula, nem com Dilma — ainda que

        no discurso de posse a presidenta tenha sinalizado a educação, a saúde e a segurança como
        prioridades.  Assim  como  a  educação  também  não  foi  prioridade  no  governo  de  seus
        antecessores. E isso explica nossa situação atual. Como um país pretende ser grande com

        metade dos jovens de 15 anos que estão na escola — porque 15% já não estão — com
        dificuldades para interpretar textos e um problema maior ainda para fazer contas? E com
        43% dos empregados no mercado de trabalho sem diploma do ensino médio? Ou com os
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