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no  caminho,  conscientes  de que  o fim  não  importa.  O  fim  já  está dado,  todo  o  resto é
        possibilidade.

          No filme de Arnaldo Jabor, as melhores frases são de Noel, avô do personagem principal,
        vivido pelo enorme Marco Nanini. Numa ocasião, ele diz ao neto: “Ninguém é feliz. Com
        sorte, a gente é alegre”. E completa: “A vida gosta de quem gosta dela”. Achei de uma

        simplicidade brilhante. É isso afinal. É claro que há uns poucos momentos de felicidade, mas,
        como diz Noel em seguida, eles duram no máximo uns dez minutos e se vão para sempre.

          Em vez de ficar perdendo tempo com finais felizes ou se perguntando sobre a felicidade
        ou  invejando  a  suposta  felicidade  do  vizinho  ou  se  sentindo  mal  porque  não  é  um
        personagem de comercial de margarina, vale mais a pena tratar de viver. Tratar de gostar da

        vida para que ela goste de você.
          Nada  me  dá  mais  medo  do  que  gente  que  vive  como  se  habitasse  um  comercial  de

        margarina. Se aceitarem um conselho: corram dessas vidas de photoshop. Elas não existem.
        Gente de verdade vive do jeito possível — e tenta lembrar que o possível não é pouco. Isso
        não significa se acomodar, pelo contrário. Mas abrir os olhos para a novidade do mundo, na

        soma subtraída de nossos dias. Desejar a vida que nos deseja.
               É como em outra frase, esta dita por um comprador ambulante de coisas velhas, num

             momento crucial do filme. Um delirante Noel, assustado com a proximidade da morte e
           disposto a retomar a alegria, sacode na rua o personagem de Emiliano Queiroz, gritando:
           “Hoje é sábado, hoje é sábado”. E o comprador de coisas que já perderam o sentido diz a
            frase antológica, digna de um frasista como Nelson Rodrigues: “O sábado é uma ilusão”.

           Sim, o sábado é uma ilusão. Então, lembre de viver também de segunda a sexta.

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