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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO



            3.2 Conhecimento sintático


                Saber como o léxico de uma língua se estrutura em uma sentença é uma das competências esperadas
            ao produzir e ler um texto. Como bem esclarecem os autores Negrão, Scher e Viotti (In: FIORIN, 2005,
            p. 81):


                                            O falante de qualquer língua natural tem um conhecimento inato sobre
                                            como os itens lexicais de sua língua se organizam para formar expressões
                                            mais e mais complexas, até chegar ao nível da sentença.


                Esses autores nos propõem imaginar o léxico de nossa língua como um dicionário mental composto
            por um conjunto de palavras a ser utilizado para construção de sentenças. Nossa intuição nos leva a
            distinguir algumas propriedades das palavras e, por exemplo, no processo de aquisição de nossa língua
            materna, sabemos, desde muito cedo, que uma palavra como “mesa” é diferente da palavra como “cair”.
            Uma criança logo diz “caiu”, mas nunca diz “mesou”. Essa distinção indica que ela sabe que “cair” faz
            parte de um grupo de palavras – como “chorar”, “querer”, “papar” – que pode combinar-se com um tipo
            particular de sufixos, como –ou, -eu, -iu. Ao mesmo, ela sabe que “mesa” faz parte de um outro grupo
            de palavra – como “cadeira”, “berço”, “brinquedo” – que, por sua vez, pode combinar com outro tipo de
            sufixo.


                Nosso conhecimento sobre a língua também nos ajuda a perceber que as sentenças de nossa
            língua não são resultado da mera ordenação de léxicos em uma sequência linear. Sabemos que uma
            sequência de palavras como “menino bicicleta o da caiu” não é uma frase do português. Sabemos
            também que


                                            para termos uma sentença do português formada por esses mesmos itens
                                            lexicais, precisamos, antes, fazer combinações intermediárias: compor “o” com
                                            “menino”, compor “da” com “bicicleta”; compor “caiu” com “da bicicleta”; e,
                                            finalmente, compor “o menino” com “caiu da bicicleta”. Sabemos, portanto, que
                                            a estrutura da sentença não é linear, mas sim hierárquica. (FIORIN, 2005, p. 82)


                Enfim, sabemos que a frase “a” é bem formada em português e a frase “b” não é possível em nossa
            língua:

                a) O menino comprou uma bicicleta nova com a mesada.

                b) A comprou uma menino nova o com bicicleta mesada.


                Na frase “a”, o léxico nova deve se juntar ao léxico bicicleta para formar um constituinte superior
            – bicicleta nova – que, por sua vez, se junta à palavra uma, para formar um constituinte ainda superior:    Revisão: Leandro - Diagramação: Léo  - 14/07/2011
            uma bicicleta nova. O mesmo acontece com a palavra menino e o, que formam constituinte superior:
            o menino, e com as palavras a e mesada, que forma constituinte: a mesada. Este último par junta-
            se à palavra com e formam, então, o constituinte: com a mesada. O verbo comprou junta-se a esses
            constituintes, formando um constituinte ainda mais alto na hierarquia: comprou uma bicicleta nova

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