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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
(SAMARCO/VALE/BHP BILLITON) e os efeitos do desastre na foz do Rio
Doce, distritos de Regência e Povoação, Linhares (ES)”, que durou de maio
de 2016 a fevereiro de 2017 e foi de extrema contribuição. Essa pesquisa, em
específico, consistiu-se em uma etapa quantitativa com aplicação do ques-
tionário “Pesquisa social, econômica e cultural de moradores da foz do Rio
Doce e o rompimento da barragem de Fundão” e uma etapa qualitativa
que reuniu entrevistas de vários atores da região. Este artigo é o resultado
de dois anos de trabalho no projeto do Edital PROEXT/2016, denomina-
do “Áreas protegidas e grandes projetos de desenvolvimento no horizonte
de vivências das comunidades locais: os impactos socioambientais e seus
desdobramentos”, executado pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Po-
pulações Pesqueiras e Desenvolvimento no Espírito Santo (GEPPEDES).
AS COMUNIDADES DA FOZ DO RIO DOCE E OS
DESDOBRAMENTOS DOS PROCESSOS DE INSTALAçãO DE
UNIDADES DE CONSERVAçãO
As populações pesqueiras artesanais não enxergam a prática da pesca
apenas como profissão, “a pesca artesanal faz parte do cotidiano de diversas
vilas pesqueiras, não só como fonte de alimento, mas também como modo
de vida, fornecendo identidade a essas comunidades” (BICALHO, 2012, p.
29). É notório no modo de viver das comunidades pesqueiras tradicionais
como os conhecimentos da natureza possibilitam uma vivência que valori-
za a cultura passada de geração em geração, além de reforçar as técnicas de-
senvolvidas conforme as possibilidades da região. Originalmente, as atuais
populações que têm na pesca a atividade principal de trabalho e renda nem
sempre dependeram majoritariamente dessa prática, pois, ao longo do
tempo, tais populações sofreram com a perda de seus territórios onde agri-
cultura e práticas de coletas também eram desenvolvidas. Assim, no Brasil,
segundo Diegues, “até a década de 30 [...] com exceção dos grandes centros
urbanos, os pescadores espalhados pelas inúmeras comunidades ao longo
do litoral combinavam a agricultura e a pesca” (DIEGUES, 1983, p. 2).
1
No caso de Regência Augusta , distrito de Linhares, ela está “[...] locali-
1 “A vila de Povoação situa-se no município de Linhares (19°33’45"S; 39°48’45"W), a 36 km
da sede do município e a 160 km ao norte de Vitória, capital do estado do Espírito Santo. A
vila, de 29 ha de área e cerca de 1.300 habitantes, localiza-se na margem norte do Rio Doce,
a 10 km de sua foz e a 1 km do mar” (PINHEIRO & JOYEUX, 2007).
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