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Capítulo 6
“nós não estamos lidando com lambaris,
estamos lidando com tubarões”
Sobre os efeitos e os desdobramentos
institucionais do desastre da mineração na
foz do Rio Doce 1
Flávia Amboss Merçon Leonardo
João Paulo Lyrio Izoton
INTRODUçãO
Primeira coisa, nós não estamos lidando com lambari, nós não
estamos lidando com peixe pequeno, estamos lidando com tuba-
rões e eles são estruturados pra isso, eles têm psicólogos, eles têm
sociólogos, eles têm pra cada área específica eles têm uma pessoa
determinada. E pra comunidade eles têm o que? Eles têm duas
pessoas que vêm na comunidade fazer uma parte social. Qual é
a parte social que ela faz? Você vai lá, relata o que aconteceu, aí
você fala de fulano, de ciclano, ele anota e fala: “ah, vou enviar
pra empresa”. Isso não é social, não é. Se ela causou danos, eu
quero saber o que ela tem pra oferecer além do subsídio, o que
ela tem? Ela tem que oferecer pra nós direitos de ir e vir, comuni-
cação direta, saúde em primeiro lugar, ela tem que fornecer... eu
não tô preocupada que ela vai fazer os esgotos, não, porque há
muitos anos que já vem vazando essa lama e nós sabíamos. Há
muitos anos! Por que o troço não rompeu da noite pro dia. Se-
gundo os técnicos, aquilo ali já vinha rompendo há tempos, en-
tendeu? Então eles sabem da existência do problema, não estalou
1 Este artigo foi produzido a partir do relatório de pesquisa “Rompimento da barragem do
Fundão (SAMARCO/VALE/BHP BILLITON) e os efeitos do desastre na foz do Rio Doce,
distritos de Regência e Povoação, Linhares (ES)” de autoria de Flávia Amboss Merçon Leo-
nardo, João Paulo Lyrio Izoton, Hauley Valim, Eliana Santos Junqueira Creado, Aline Tri-
gueiro, Bianca Silva, Luiz Duarte e Nayara Santana (2017).
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