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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
ciar a crise, a Fundação Renova – torna-se um exemplo emblemático.
Dessa forma, compreendemos que há uma ausência não só de informação,
mas principalmente de participação das populações atingidas na região
da foz do Rio Doce nos processos de negociação e decisões sobre repara-
ções e indenizações. Com isso, assim como Zhouri e colaboradores (2016;
2017) vêm analisando no estado de Minas Gerais, a falta de autonomia nas
tomadas de decisões sobre a reparação e a insegurança no que tange ao
futuro das vítimas também contribuem para o agravamento do sofrimento
social na região da foz do Rio Doce no estado do Espírito Santo.
Para finalizar a introdução, salientamos que este artigo é fruto do relató-
rio “Rompimento da barragem do Fundão (Samarco/Vale/BHP Billiton)
e os efeitos do desastre na foz do Rio Doce, distrito de Regência e Povoa-
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ção (ES)” (LEONARDO et al., 2017). Ele tem o objetivo de proporcionar
reflexões sobre o desastre da mineração no Vale do Rio Doce, sobretudo
dialogar a respeito dos problemas enfrentados no processo de gestão da
crise, a partir da experiência com os atingidos e atingidas nos distritos
de Regência e Povoação (ES). Dito isso, torna-se importante ressaltar que
as reflexões aqui apresentadas são resultado de um processo de pesquisa
colaborativo que envolve, além dos autores, o Grupo de Pesquisa em Po-
pulações Pesqueiras e Desenvolvimento no Espírito Santo (GEPPEDES) e
os atingidos e as atingidas com quem convivemos desde período anterior
ao desastre e, dessa forma, compartilhamos experiências e reflexões.
DA CHEGADA DA LAMA: EFEITOS VIVENCIADOS E AçÕES
EMERGENCIAIS
O percurso da lama da Samarco, da barragem que a originou à
6 O relatório é resultado da pesquisa “Depois da lama: os atingidos e os impactos na foz
do Rio Doce”, realizada com os atingidos e atingidas pelo rompimento da barragem
de Fundão na região da foz do Rio Doce, nos distritos de Regência e Povoação (ES).
A pesquisa em destaque foi contemplada pelo edital público “Mão na massa e pé na
lama”, promovido pelo Greenpeace em parceria com o projeto colaborativo Rio de
Gente, para pesquisas independentes sobre o desastre no Rio Doce, e foi realizada em
parceria com o Grupo de Estudos e Pesquisa em Populações Pesqueiras e Desenvolvi-
mento no Espírito Santo (GEPPEDES), vinculado ao departamento de Ciências Sociais
da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no âmbito das ações de extensão. A
pesquisa em destaque foi coordenada por Flávia Amboss Merçon Leonardo, João Paulo
Lyrio Izoton e Hauley Valim.
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