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Capítulo 6

                    mineração (TAUSSIG, 2010), a relação entre a lama da Samarco e a ima-
                    gem da morte foi (e ainda é) acionada pelos moradores em Regência. João
                    – pescador artesanal e morador de Regência – expôs, com bastante preo-
                    cupação, “isso aí é a morte do Rio Doce!” E vai matar quem tá para baixo tam-
                    bém, na boca do Rio. A morte tá chegando e por enquanto não apareceu ninguém
                    para nos socorrer” (em entrevista realizada no dia 15 de novembro de 2015).

                    No dia 21 de novembro, quando os rejeitos chegaram à foz do Rio Doce,
                    não foi diferente e houve protesto no porto dos pescadores e na praia de
                    Regência. No porto, localizado na beira do Rio Doce, a comoção e o choro
                    guardado tomaram conta dos moradores que esperavam e viram a lama
                    chegar. No local, um ato simulando o velório do Rio Doce foi realizado
                    e a alegoria da morte reapareceu, desta vez com um morador vestindo
                    seu capuz preto e segurando uma foice, em cuja lâmina se lia o nome da
                    empresa Samarco. No mesmo dia, um ato realizado na praia teve a inter-
                    venção da Polícia Militar quando os moradores tentaram impedir que a
                    vegetação de restinga fosse retirada da praia no intuito de levar uma dra-
                    ga até a foz do rio. Contudo, ao final do dia, contrariando os moradores e
                    com o apoio da polícia, a draga passou pela vegetação e foi usada em mais
                    uma tentativa de abrir a foz sul que, no momento da chegada da lama,
                    ainda se encontrava fechada, apesar das inúmeras tentativas de abertura.

                    Com a chegada da lama, a coloração da água do rio e do mar mudou.
                    Muitos animais foram encontrados mortos na região da foz do Rio Doce;
                    entre eles, várias espécies de peixes, aves e cobras foram retiradas sem
                    vida (ORGANON, 2015; LEONARDO et al., 2017). Diante das inúmeras
                    cobranças e da preocupação sobre a composição química dos rejeitos, a
                    Samarco informou, por meio de nota, que “o rejeito é inerte. Ele é com-
                    posto, em sua maior parte, por sílica (areia) proveniente do beneficiamen-
                    to do minério de ferro e não apresenta nenhum elemento químico que
                    seja danoso à saúde” (SAMARCO MINERAçãO, 2015a, apud POEMAS,
                    2016, p. 147). Contudo, pesquisadores alertaram que, mesmo em pequenas
                    quantidades, “muitos dos metais e substâncias químicas potencialmente
                    presentes no rejeito podem causar prejuízos à saúde humana ou ao meio
                    ambiente” (POEMAS, 2016, p. 147). Mesmo assim, a empresa não divul-
                    gou, em um primeiro momento, as análises da água e dos possíveis sedi-







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