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Capítulo 6

                           foz do Rio Doce, durou 15 dias. Ela chegou ao município de Li-
                           nhares no dia 20 de novembro, chegando à Povoação, Regência e
                           ao mar no dia 21 daquele mês. Esses 15 dias foram marcados por
                           muita ansiedade e expectativa na região, levando a alterações no
                           cotidiano das localidades afetadas. Reforçada pela falta de infor-
                           mações dos órgãos oficiais ou de um canal de comunicação dire-
                           to com as comunidades, a insegurança acerca do que estava por
                           vir começou a afetar as relações de trabalho, de convívio familiar
                           e social desde antes da chegada da lama. “A preocupação está tão
                           grande que as pessoas estão deixando até de viver para ficarem focadas
                           nessa questão. Porque o prejuízo vai ser muito grande. [...] A gente não
                           está sabendo como lidar com a situação. [...] E a comunidade toda está
                           sensibilizada. A questão emocional, então, abala muito porque a gente
                           cresceu aqui”, expôs Sandra (funcionária pública e comerciante,
                           em entrevista realizada no dia 15 de novembro de 2015).

                    Conforme já apresentado em outros trabalhos (CREADO et al., 2016;
                    LEONARDO et al., 2017), várias atividades foram, então, suspensas ou
                    aceleradas em função do anúncio do desastre na foz do Rio Doce. As ati-
                    vidades realizadas no rio e aquelas que dependem do rio, como foi o
                    caso da pesca artesanal e da agricultura, foram interrompidas tão logo
                    foi anunciado o desastre. Com receio de que o abastecimento de água
                    fosse interrompido, ocorreram profusas tentativas de abertura de poços
                    artesianos no distrito de Regência. O receio da contaminação fez com que
                    vários turistas cancelassem reservas nos meses de novembro e dezembro
                    em diferentes estabelecimentos comerciais. O Projeto Tartarugas Mari-
                    nhas (Projeto Tamar) fez um trabalho intensivo de transferência dos ovos
                    de tartarugas. E a Prefeitura de Linhares, através da Secretaria Municipal
                    de Meio Ambiente, com apoio do Projeto Tamar, autorizou a abertura da
                    foz do Rio Doce em espaço ambientalmente sensível. Tudo isso era o pre-
                    núncio da chegada dos rejeitos à foz do Rio Doce.

                    Na ocasião do rompimento, já residíamos em Regência há nove meses
                    e foi possível acompanhar in loco as primeiras alterações decorrentes do
                    desastre. Um ponto que nos chamou a atenção, no que tange às alterações
                    das dinâmicas locais, foi a presença de funcionários da Samarco e empre-







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