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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
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sas contratadas na região, como foi ocaso da OceanPact . A empresa em
destaque se tornou responsável pela instalação de barreiras no Rio Doce,
na tentativa de minimizar o estrago causado no rio pela mineradora.
A ação de mitigação foi prevista a partir do Termo e Compromisso So-
cioambiental Preliminar (TCSA), proposto pelo Ministério Público Fe-
deral do Espírito Santo (MPF/ES) e pelo Ministério Público do Trabalho
(MPT) em face da Samarco Mineração S.A. A mão de obra para a rea-
lização dessa atividade de mitigação deveria ser majoritariamente local.
Logo, alguns dias antes da chegada da lama ao município de Linhares, al-
guns pescadores foram contratados informalmente pela OceanPact para
fazer o trabalho de prevenção, mitigação e monitoramento da pluma de
rejeitos. “A Samarco veio falando que ia contratar essa empresa, lançar aquelas
boias, né. Porque também não serviu de nada. Pra lançar [as boias] no rio, pra
evitar a contaminação dos manguezais, né” (Geraldo, pescador artesanal, em
entrevista realizada no dia 17 de janeiro de 2017).
Observamos que a maior parte dos moradores contratados eram homens
e, através de relatos, identificamos também que havia uma preferência
por pescadores filiados à associação de pesca local. Essa ação gerou des-
contentamento naqueles pescadores e outros moradores que não foram
contratados e que também vivenciavam os efeitos imediatos da proibição
da pesca e da impossibilidade de utilizar a água do rio e do mar (Anota-
ções no caderno de campo, 31/01/2017). As barreiras, normalmente usadas
para conter vazamentos de óleo, não serviram para barrar o contato da
pluma de minério com a vegetação na foz do Rio Doce.
A chegada da lama foi antecedida por vários protestos de moradores con-
tra a Samarco e a nova situação vivenciada. Através de faixas como “SOS
Rio Doce”, “Somos Regência”, “Samarco, cadê o respeito?”, “Quanto vale
o Rio Doce?”, os moradores externalizaram suas angústias, preocupações
e indignações. Por vezes, e de modo semelhante às narrativas populares
de mineradores e trabalhadores canavieiros na América do Sul, que re-
metem à figura do diabo enquanto fetichização do mal no contexto de
exploração e imposição cultural a que são submetidos com a atividade da
7 A OceanPact é uma empresa brasileira especializada no gerenciamento e resposta a emer-
gências nos ambientes marinho e costeiro. Fonte: http://www.oceanpact.com/quem-somos/
sobre-a-oceanpact (acessado em 8 de março de 2018).
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