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Capítulo 6

                    lama, onde solidifica, cria uma camada grossa que poucas espécies con-
                    seguem transpor. E mesmo aquelas que a transpõem têm dificuldades
                    em se sustentar até chegar à fase produtiva. À base de muito esterco e
                    irrigação ainda é possível manter algumas culturas, mas também advém
                    da incerteza das condições da água uma grande desconfiança dos con-
                    sumidores acerca dos produtos da região. Há, portanto, uma dificuldade
                    na comercialização da produção agropecuária que, quando ocorre, ainda
                    está sujeita a preços abaixo do valor do mercado.
                    Os prejuízos na pesca foram similares. O verão que se seguiu ao desastre
                    foi ainda mais catastrófico na medida em que, na época mais piscosa do
                    ano, a atividade sofreu interdição. A proibição do acesso às tradicionais
                    guaibiras, carapebas, manjubas e pescadinhas afetou não apenas a ren-
                    da, mas também a alimentação dos núcleos familiares. Mesmo o pescado
                    que foi capturado antes da lama e estocado nos freezers não teve saída ou
                    foi vendido a preço muito baixo.
                    Da mesma forma, até hoje os peixes das lagoas não contaminadas em Li-
                    nhares não recuperaram seu valor de venda. Para os pescadores do mar,
                    a pesca está  interditada até onde  a plataforma  continental alcança 25
                    metros de profundidade. Na prática, essa proibição não só inviabiliza o
                    arrasto de camarão, mas também a prática daqueles pescadores que, mes-
                    mo indo ao mar, faziam-no em barcos sem a autonomia necessária para
                    alcançar essa distância da costa. Com a atividade parada, os petrechos
                    de quem segue a proibição estão encostados e, com isso, o material vai se
                    deteriorando. São botes, barcos, remos, redes, entre outras ferramentas
                    de trabalho que estão se deteriorando com falta de uso e manutenção,
                    gerando ainda mais prejuízos para a atividade pesqueira.

                    Quanto ao auxílio emergencial e ao Termo de Compromisso Sócio Am-
                    biental (TCSA) – que definiu os termos da concessão por parte da Samar-
                    co aos atingidos que tinham suas atividades laborais relacionadas com o
                    Rio Doce –, o documento demandava apenas uma declaração da ativida-
                    de praticada e do seu impedimento. Para cumprir esse ponto do TCSA,
                    a Samarco contratou inicialmente duas empresas: a Golder Associates,
                    para realizar um diagnóstico dos impactos socioeconômicos, e a Praxis,
                    para realizar a etapa de cadastramento de famílias diretamente impacta-







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