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Capítulo 6
ao rio e ao mar, relatou dificuldades ainda maiores para conseguir o auxí-
lio emergencial garantido pelo TCSA. Um exemplo emblemático é a situa-
ção dos comerciantes que viviam diretamente do turismo no distrito de
Regência e que só foram receber o auxílio emergencial em meados de 2016,
após uma série de manifestações ocorridas na vila de Regência. Mesmo
assim, alguns comerciantes encontraram (e ainda encontram) dificulda-
des para receber o auxílio emergencial, buscando inclusive o caminho da
judicialização do caso. Em Povoação, o pagamento do auxílio emergencial
para comerciantes não tinha sido iniciado durante o período do trabalho
de campo para a produção do relatório (LEONARDO et al., 2017).
Diante do exposto, ressaltamos que a falta de transparência acerca dos
critérios adotados para a elaboração do perfil através do cadastro da Sa-
marco (realizado inicialmente pela empresa Praxis) já era observada na
região estudada antes da criação da Fundação Renova e da elaboração
do programa cadastro integrado, ou seja, entre o final de 2015 e meados de
2016. Nesse ínterim, uma série de reuniões, coordenadas por funcionários
da Samarco ou suas terceirizadas (inicialmente OceanPact, Golder Asso-
ciates, Praxis e Dialog), proporcionaram o contato direto de seus con-
sultores com as comunidades sem nenhum tipo de mediação do poder
público. As reuniões tinham a finalidade de elaborar projetos que poste-
riormente seriam aplicados às regiões afetadas. A não participação da co-
munidade foi a tônica desse processo, privilegiando os representantes de
associações estabelecidas na participação dessa discussão, o que resultou
em programas que a maioria desconhece ou ainda associa às experiên-
cias anteriores já desenvolvidas na região por outras entidades, como o
projeto ECOCIDADANIA, levado à cabo pela Agência de Sustentabilida-
de Comunitária da Planície Costeira do Rio Doce (ASCORD), e o Projeto
Tamar, com o aporte financeiro da PETROBRAS.
Neste sentido, a dinâmica que a Samarco imprimiu a esse processo privi-
legiou a participação daqueles que já possuíam experiência pretérita nas
formas delineadas pela empresa para relacionar-se com os atingidos da
região. As habilidades requeridas para a participação qualificada nesse
processo de reuniões – transformar seus anseios em projetos, negociar
com os representantes da empresa e até se fazer entender por eles –, con-
vém lembrar, eram e ainda são pouco disponíveis em um contexto onde
pelo menos 50% da população se declarara como não letrada e/ou com
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