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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               Nesse processo de mobilização da opinião pública através da operacionali-
               zação discursiva, a noção de esfera da visibilidade pública é importante na
               medida em que funciona como lugar de projeção dos discursos gerados no
               interior de uma rede de instituições e sujeitos sociais. É na esfera pública
               que se processa o debate público, ou seja, “a contraposição argumentativa,
               a disputa de interesses mediada pela linguagem, as interações linguísticas
               competitivas sobre as matérias de interesse político coletivo” (GOMES, 2003,
               p. 58). Há uma esfera da visibilidade que pressupõe o processo de mediação,
               funcionando como espaço de fluxos e trocas discursivas entre indivíduos
               que de alguma forma estão relacionados com as questões colocadas em jogo.

               Para além das grandes redes de mídia, espaços constituídos pelos veícu-
               los de comunicação hegemônicos e institucionalizados, pode-se conside-
               rar que houve certa ampliação da esfera da visibilidade pública a partir
               da efetivação das redes sociais digitais, incorporando atores sociais mais
               diversificados e que de alguma forma passaram a participar mais ativa-
               mente dos processos de mediação na contemporaneidade.
               A partir do mapeamento e análise de alguns desses vídeos documentais
               – considerando contexto cultural, aspectos estéticos e formais, temática e
               condições de produção –, identificam-se os modos de representação des-
               sas minorias e os discursos gerados por esses materiais para se compreen-
               der como são capazes de ressignificar as territorialidades – físicas e sim-
               bólicas – em disputa a partir da tragédia ambiental que destruiu um rio.

               A abordagem que pauta o estudo desses materiais se ancora no conceito
               de territorialidade (RAFFESTIN, 1993; HAESBAERT, 2004), por enten-
               dermos que os atores sociais em evidência nessas narrativas foram afeta-
               dos em seus territórios físicos e, portanto, necessitam ocupar territórios
               simbólicos para dar visibilidade às demandas de suas comunidades. A
               noção de territorialidade envolve a ação dos agentes e as disputas de po-
               der sobre um determinado espaço, em um tempo específico. Para Haes-
               baert (2004), território, em qualquer acepção, diz respeito a poder, “mas
               não apenas ao tradicional ‘poder político’. Ele diz respeito tanto ao po-
               der no sentido mais concreto, de dominação, quanto ao poder no sentido
               mais simbólico, de apropriação” (HAESBAERT, 2004, p. 1).
               Pensando a questão territorial a partir do marxismo, o geógrafo David
               Harvey  privilegia  a dimensão  espacial no  processo  de acumulação  no




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